
Chegou ao fim o trabalho de Dorival Júnior à frente da Seleção Brasileira. O treinador não resistiu à derrota acachapante, por 4 a 1, para a Argentina e teve a demissão selada em reunião na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nesta sexta-feira.
Ele encerra sua passagem pela Seleção com aproveitamento de 58%. Foram sete vitórias, sete empates e duas derrotas, com 25 gols marcados e 17 sofridos.
Dorival deixa o Brasil na quarta posição das Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo de 2026, com 21 pontos, 10 atrás da líder Argentina, e sete à frente da sétima colocada Venezuela, que pegaria a repescagem hoje.
Sob o comando do treinador, o Brasil caiu nos pênaltis para o Uruguai nas quartas de final da Copa América.
Dorival foi anunciado como técnico da Seleção Brasileira em 10 de janeiro de 2024, poucos meses após levar o São Paulo à conquista inédita da Copa do Brasil, título que havia faturado no ano anterior com o Flamengo, junto com a Libertadores.
Ele foi escolhido por Ednaldo Rodrigues pouco tempo depois de o dirigente ser reconduzido ao cargo pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em momento de imbróglio na entidade.
Antes, Fernando Diniz havia assumido como treinador de maneira interina enquanto a Seleção aguardava a chegada de Carlo Ancelotti, o que acabou não acontecendo.
A trajetória de Dorival

O início do trabalho de Dorival Júnior com o Brasil foi animador. A Seleção venceu amistoso contra a Inglaterra, por 1 a 0, em Wembley, e depois empatou por 3 a 3 com a Espanha, em Madri.
Fazer frente a dois rivais da primeira prateleira do futebol mundial deram a esperança de dias melhores ao torcedor brasileiro.
O treinador caiu em contradições e não conseguiu dar um padrão para o combinado nacional, fazendo o time piorar a cada apresentação.
Substituto de Neymar

Um dos primeiros equívocos de Dorival foi não ter encontrado um substituto ideal para Neymar e aguardar cegamente pelo retorno do atleta.
O camisa 10 ficou mais de um ano fora por causa de grave lesão no joelho e não trabalhou com o treinador na Seleção.
O treinador contava com o jogador nas últimas duas convocações, mas duas novas lesões tiraram o craque de ação.
Time sem referências

Durante este período, Dorival foi incapaz de fazer Vini Jr. e Rodrygo, do Real Madrid, e Raphinha, do Barcelona, esbanjarem com a Amarelinha o mesmo talento apresentado em seus respectivos clubes. O time brasileiro ficou sem referências e se tornou uma equipe comum.
Incoerências do técnico

Dorival também demonstrou incoerência em determinadas situações, como no caso de Endrick.
O jovem foi o responsável por dar a vitória sobre a Inglaterra e garantir o empate com a Espanha, mas não foi convocado pela falta de minutos em campo no Real Madrid.
Porém, o treinador colocou o atacante em campo no intervalo da derrota para a Argentina, quando o Brasil já perdia por 3 a 1, sendo que o prodígio só havia sido chamado para suprir o corte de Neymar.
Ausência de um centroavante

A situação envolvendo Endrick também vai ao encontro da falta de convicção na busca pelo camisa 9 ideal.
Dorival gostaria de contar com Pedro, mas o centroavante do Flamengo, assim como Neymar, também sofreu uma grave lesão.
O treinador chegou a testar Igor Jesus, do Botafogo, que correspondeu com gol e assistência nos duelos com Chile e Peru, mas ficou fora da última lista — situação semelhante ao que aconteceu com Andreas Pereira, do Fulham, da Inglaterra, e Luiz Henrique, do Zenit, da Rússia.
Falso 9

A solução encontrada por Dorival foi jogar em um esquema com um falso 9, testando o ponta João Pedro, do Brighton, da Inglaterra, e Matheus Cunha, do Wolverhampton, da Inglaterra, jogando por dentro, mas sem resultados.
A presença de atletas de times do segundo escalão do futebol inglês na Seleção chegou a ser criticada por torcedores.
Cabe ressaltar que a campeã do mundo Argentina, por exemplo, também conta com atletas de times de médio porte da Europa, e nem por isso apresenta um futebol abaixo da crítica como o Brasil.
Parte tática inconsistente
Do ponto de vista tático, o trabalho de Dorival também não demonstrou consistência. Foram testadas diferentes formações em busca do modelo ideal, desde um meio-campo com três volantes a um esquema com quatro atacantes.
A Seleção conseguiu resultados mais apoiada na qualidade técnica dos jogadores do que em um estilo bem definido.