Natural de Porto Alegre, Luciano Kayser, 42 anos, ingressou no curso de Agronomia pensando na parte mais tradicional da profissão, que atua em propriedades rurais. Como muita gente que ingressa nessa área, Kayser tinha um vínculo antigo com a terra, já que sua família possuía uma propriedade em Nova Santa Rita.
Ao chegar à UFRGS, conheceu a pesquisa e começou a mudar de ideia. Foi monitor, bolsista de iniciação científica e saiu da graduação para ingressar no mestrado. Estudar o solo e os micro-organismos que podem auxiliar na produção agrícola tinham mais a ver com seu perfil, considerado mais urbano. Além disso, estudar exercitava sua criatividade. Por isso, em seguida, fez doutorado, também na UFRGS.
Assim que defendeu sua tese, em janeiro de 2002, Kayser prestou concurso para a Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro). Aprovado em fevereiro, começou a trabalhar, meses depois, como pesquisador da instituição, focado no desenvolvimento regional. Hoje, ele divide sua criatividade entre o laboratório de solo da Fepagro e as charges de cunho político que elabora.
- Pesquisar exercita a criatividade e gera conhecimento - comenta Kayser, cartunista e blogueiro nas horas vagas.
Seus estudos analisam a ação de micro-organismos no solo. O que acontece quando eles atuam em uma plantação específica e como a ação deles pode reduzir o impacto ambiental são algumas das vertentes analisadas. O uso de micro-organismos, explica o agrônomo, pode ser benéfico pois dispensa o uso de fertilizantes e, assim, reduz os danos no ambiente.
Em outras áreas, a Fepagro também estuda possibilidades de implantação de culturas que possam ser adaptadas ao nosso clima e ao nosso solo. A tolerância ao frio, por exemplo, é uma das principais questões avaliadas.
Busca de tecnologias limpas é um mercado em expansão
Para ele, o mercado tradicional, voltado ao agronegócio oscila bastante, dependendo do desempenho das lavouras, por exemplo. Mesmo assim, Kayser entende que a Agronomia é diversificada e está em expansão. Um dos principais caminhos hoje é o que busca tecnologias limpas e, ao mesmo tempo, se aproxima de outras áreas, como a Biologia. Ele próprio faz parte de um grupo de pesquisa da UFRGS focado em Genética e Biologia Molecular, que reúne diversos profissionais.
- A questão ambiental permeia praticamente todas as áreas da Agronomia. Quando há muito impacto ambiental, avaliamos possibilidades de redução, por exemplo.
Estereótipo
Como agrônomo vou ter de trabalhar em uma propriedade rural
> Não. O agronegócio pode ser considerado a área mais tradicional da Agronomia, mas não é a única. Além de atuar em lavouras ou diretamente na criação de gados, o profissional tem um campo amplo de atuação que inclui, por exemplo, a área de pesquisas e a biotecnologia. Hoje, o ramo cresceu muito, principalmente quando o tema é a redução do impacto ambiental.
Verdade
Veja algumas possibilidades da profissão
> Redução de impacto ambiental: com foco no baixo impacto, é possível atuar na recuperação de áreas degradadas. Além disso, há empresas de consultoria focadas nisso
> Paisagismo: cultivo e ajardinamento de plantas em parceria com projetos arquitetônicos
> Tecnologia de alimentos: indústrias alimentícias costumam precisar de agrônomos para o controle do processo. Um setor que cresce é o das vinícolas
> Biotecnologia: o agrônomo pode atuar em indústrias que criam produtos para aplicação em sementes
> Topografia: é possível atuar medindo terras e avaliando o impacto ambiental de alterações
> Pesquisa acadêmica: tanto em universidades como em outros órgãos de pesquisa como a Fepagro e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), há espaço para estudos na área da Agronomia
> Irrigação: projetos de irrigação costumam demandar a presença de um agrônomo. É uma área que exige conhecimentos de cálculo
> Agricultura de precisão: mais focada na parte tradicional da Agronomia, é possível atuar com a quantidade precisa de adubo que se coloca em cada parte de solo, por exemplo
> Produção de alimentos orgânicos: área nova, a produção de alimentos totalmente orgânicos ou com um viés orgânico cresce