Professores identificados com o pensamento de direita estão promovendo o lançamento, nesta semana, em mais de uma dezena de cidades brasileiras, do Movimento Docentes pela Liberdade (DPL).
Em Porto Alegre, o evento, com a mesa-redonda Universidade e Liberdade — A Liberdade de Pensar e Agir com Responsabilidade nas Universidades, está marcado para as 19h desta quinta-feira (4), na Assembleia Legislativa (Praça Marechal Deodoro, 101, Centro).
O material de divulgação destaca as presenças do procurador de Justiça do Estado Fábio Costa Pereira, dos deputados estaduais Giuseppe Riesgo (Novo) e Tenente-Coronel Zucco (PSL), do escritor e ex-deputado estadual Percival Puggina e do empresário Roberto Rachewsky. Há vagas limitadas mediante inscrição prévia.
Idealizado pelo biólogo Marcelo Hermes Lima, professor da Universidade de Brasília (UnB), o DPL surgiu em maio com o objetivo de reunir docentes de direita e até de centro, conservadores e liberais de instituições brasileiras públicas e privadas de Ensino Superior. Também estão convidados a participar docentes e alunos de unidades de Educação Básica. Segundo o texto de abertura do site da Regional Rio Grande do Sul, o DPL é "pela defesa da liberdade com responsabilidade e em oposição ao patrulhamento ideológico nas instituições de ensino".
"Prezamos pela qualidade acadêmica, liberdade, eficiência administrativa, respeito ao dinheiro público, sustentabilidade, justiça e igualdade de todos perante a Lei e pela verdade", lê-se na continuação da definição. O número de membros, recentemente estimado em mais de 300, moradores de 24 Estados, vem crescendo com rapidez.
Rio Grande do Sul já contabiliza 50 integrantes
Os debates sobre diversos temas de interesse dos participantes e as ações inaugurais de divulgação vêm sendo realizados pelos aplicativos WhatsApp e Telegram. Há grupos de conversa nacionais, regionais e estaduais — o do Rio Grande do Sul contabiliza, atualmente, cerca de 50 pessoas. Como também há membros que se cadastram pela internet e que não estão nos bate-papos, é provável que a quantidade de gaúchos ligados ao DPL seja maior.
Professor aposentado de Audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Hélio Godoy de Souza soube da movimentação virtual por um colega e resolveu entrar em um dos fóruns de discussão. Com uma sólida formação de esquerda, tendo participado de movimentos estudantis na Universidade de São Paulo (USP), na década de 1970, e da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), Souza, com o tempo, passou a questionar seu próprio posicionamento. A experiência do doutorado foi fundamental para a troca de lado.
— Comecei a estudar determinadas questões ligadas à teoria do cinema e descobri que havia uma hegemonia do movimento marxista. As conclusões a que cheguei estavam batendo de frente com a maioria do pessoal que estudava esse assunto — recorda o professor, acrescentando que se seguiu um momento confuso em sua trajetória.
— A partir daí, não entendi mais nada. Não sabia o que estava acontecendo. Meus artigos eram criticados, não conseguia publicá-los, "você não cita os autores que devem ser citados" — acrescenta ele, que acusa periódicos de "boicote ideológico".
A partir das eleições de 2014, conta Souza, tudo ficou mais claro:
— Me indispus com o que estava acontecendo e fui procurar saber o que existia de pensamento à direita. Fui atrás das informações do professor Olavo de Carvalho (considerado o guru intelectual do presidente Jair Bolsonaro). Li os livros dele, fui conhecer o conteúdo. Ouvi quase 190 aulas dele.
Antes de se aposentar, em março, Souza se sentiu isolado no grupo de docentes com o qual convivia. Deprimiu-se, foi deixado de fora de uma reunião importante e chegou a ser transferido de curso. Tudo, explica, esteve relacionado a sua postura em relação a determinados temas.
— Agora é o momento de falar: tem mais coisa aí. Você tem que olhar outros pensadores, outras ideias. (Não fazer isso) impede o conhecimento da realidade, cria-se um véu teórico, e tudo tem que passar por esse véu. Hoje ninguém fala a respeito da realidade. As pessoas fazem uma espécie de interpretação presumida _ acredita o professor.
Mais informações sobre o DPL podem ser obtidas por meio dos canais de comunicação da Regional Rio Grande do Sul: o e-mail docentespelaliberdaders@gmail.com e a página do Facebook Docentes pela Liberdade — RS.