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O Brasil tem, pela primeira vez na história, mais alunos buscando cursos de graduação em Engenharia a distância do que presenciais. É o que mostram dados do Censo da Educação Superior, elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No Rio Grande do Sul (RS) o cenário é semelhante.
Entre 2013 e 2023 houve um salto de 2.100% no número de ingressantes em cursos de Engenharia a distância no país. No RS, no mesmo período, o aumento foi de 26.700%. Até 2023, quando houve o levantamento mais recente, havia 43,4% de ingressantes em cursos presenciais nessa área no RS (7,8 mil). Na modalidade Educação a Distância (EAD) eram 56,6% (10,2 mil).
Já no país, 45% dos ingressantes em 2023 estavam em graduações presenciais (145,2 mil alunos) e 55% na EAD (178,3 mil). O crescimento do ingresso em cursos na modalidade remota é um movimento generalizado no Brasil, abrangendo diversas áreas. O governo federal prepara um decreto que vai regulamentar o Ensino Superior a distância no país.
Conforme o presidente do Sindicato dos Engenheiros (Senge-RS), Cezar Henrique Ferreira, a entidade enxerga esse movimento com preocupação. O entendimento é de que nem todos os cursos de Engenharia podem ser adaptados para a modalidade EAD, embora essa tendência seja forte.
— A Engenharia tem como pressuposto resolver problemas, buscar soluções para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Para isso, precisa haver interação com o ambiente, com as pessoas e com outras áreas. É uma área que se conecta muito com outras profissões — afirma.
Segundo Ferreira, as experiências em laboratórios são muito importantes para uma formação de qualidade, sobretudo em áreas como Engenharia Agrícola, Engenharia de Alimentos, Civil, Elétrica e Mecânica. Por isso, nestes casos, o ideal é buscar cursos presenciais ou híbridos, que ofereçam na grade curricular atividades práticas. Ele ressalta que é necessário avaliar cada curso para entender a viabilidade das atividades a distância.
Busca por flexibilidade
Instituições de ensino gaúchas oferecem as graduações em diferentes modalidades – alguns dos cursos são presenciais, outros semipresenciais ou EAD. É o caso da Universidade do Vale do Taquari (Univates), que começou a oferta do curso de Engenharia de Produção EAD em 2020.
Os demais cursos da área ofertados são presenciais, como Engenharia da Computação, de Controle e Automação, Ambiental e Sanitária, Software, Civil, Mecânica, Elétrica e Química. Segundo o coordenador dos cursos de exatas EAD da Univates, Evandro Franzen, a experiência a distância de Engenharia de Produção tem sido positiva:
— As atividades que seriam no laboratório não acontecem presencialmente, elas são feitas por meio de softwares. Temos laboratórios virtuais, são alternativas interessantes que simulam práticas com equipamentos de ergonomia, por exemplo, e simulação de fenômenos.
Conforme Franzen, as avaliações do curso são feitas de forma presencial, além de atividades periódicas de extensão. A instituição de ensino optou por implementar o curso a distância pela demanda de alunos de outras localidades que tinham dificuldades de acesso, seja pela distância geográfica, seja pela rotina de trabalho intensa.
Também é o caso da UniRitter e da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), que perceberam que havia muitos estudantes que necessitam conciliar os estudos com a carreira.
— Começamos nosso posicionamento de oferta de cursos EAD e semipresencial nas Engenharias observando a procura de estudantes por maior flexibilidade, estes integrados em atividades laborais que não teriam disponibilidade de deslocar-se todos os dias até o campus — afirma o coordenador dos cursos de Engenharia da UniRitter, Luciano Bessauer.
Os alunos continham necessitando de uma formação de qualidade para conseguir boa colocação no mercado de trabalho. A instituição oferta sete cursos de Engenharia presenciais, sendo que alguns deles estão disponíveis também nas modalidades semipresencial e EAD – Engenharia Civil, Produção, Controle e Automação, Mecânica, Computação e Elétrica.
Os estudantes contam com conteúdo em texto, vídeo, atividades de fixação, laboratórios virtuais para simulação, biblioteca digital e comunicação direta com os professores.
Na Ulbra, estão disponíveis na modalidade a distância ou híbrida os cursos de Engenharia de Produção, Mecânica e Mecânica Automotiva. Para o superintendente de EAD e educação continuada da Aelbra, Carlos Lenuzza, é uma tendência que deve se fortalecer na área de Engenharia, mas é preciso formatar cursos de qualidade.
— Existem, de fato, instituições não muito sérias que vendem cursos a distância sem nenhuma prática, nem mesmo em laboratórios digitais. Mas o aluno foge desse tipo de oferta, porque percebe que não vai atingir a aprendizagem necessária — acredita.
Preferência pelo presencial
Mesmo com o avanço de ingressantes em cursos EAD na área, muitos estudantes ainda optam por formações presenciais. A dificuldade de organização da rotina de estudos na modalidade remota e a necessidade de realizar atividades práticas para aprender são alguns dos motivos que levaram Laura Rocca Ribeiro a isso.
A jovem de 22 anos está no 9º semestre do curso de Engenharia Química na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ela conta que chegou a fazer alguns semestres remotamente, em função da pandemia de covid-19, mas não se adaptou.
— Na minha visão, na EAD, a gente perde muito do estudo e aprendizado necessário, em relação ao que a gente adquire estando no presencial. Eu não faria um curso a distância ou semipresencial, talvez só se fossem disciplinas específicas, que não fosse tão necessário ter atividades práticas.
Como pretende trabalhar na área de Segurança de Processos, Laura entende ser fundamental a experiência nos laboratórios, para compreender como funcionam fenômenos como a transmissão de calor. A PUCRS não tem cursos de Engenharia a distância e, por enquanto, pretende manter as graduações na modalidade presencial.
— Os cursos EAD têm vantagens, mas para quem trabalha nessa área as desvantagens são muito maiores, porque o engenheiro precisa de uma formação prática muito forte. Os laboratórios presenciais proporcionam experiências fundamentais que não podem ser plenamente replicadas ambiente virtual — destaca a decana da Escola Politécnica, Sandra Einloft.