Cursos tradicionais, como formações nas áreas da Saúde, Direito e Negócios seguem entre as graduações com maior número de matrículas. É o que aponta levantamento do Instituto Semesp com dados do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC). Em 2023, Direito era o segundo curso da lista, com 658 mil matrículas – 6,6% dos registros no Ensino Superior.
Dez anos antes, em 2013, o curso de Direito ocupava a mesma posição no ranking, concentrando 10,5% (769 mil, no total) das matrículas naquele ano. O curso fica atrás de Pedagogia, somente, que detinha 8,5% das matrículas em 2023, com 852 mil alunos.
Em 2013, o curso de formação de professores reunia 8,3% do total de matrículas (606,7 mil). Naquele ano, Administração ocupava o topo da lista, com 799 mil matriculados (10,9% do total). Essa graduação ficou em terceiro lugar em 2023, com 655 mil matrículas (6,6% do total).
Também estão entre os cursos mais procurados no período Enfermagem, Psicologia, Sistemas de Informação, Contabilidade, Medicina e Fisioterapia. Ao longo dos 10 anos, a lista não mudou muito, com exceção para os cursos mais buscados na modalidade de Educação a Distância (EAD), como Serviço Social e Marketing.
Assim, apesar das transformações pelas quais os estudantes e a educação vêm passando, com novas tecnologias e cursos inovadores surgindo a cada ano, formações mais convencionais seguem atraindo alunos. Segundo Lúcia Teixeira, presidente do Semesp, entidade que representa mantenedoras de Ensino Superior do Brasil, isso se deve a múltiplos fatores.
No caso do curso de Direito, mesmo com a questão da superoferta, trata-se de uma graduação que ainda é muito valorizada pelos estudantes.
— Por mais que o aluno não vá exercer a profissão, o curso de Direito promove uma formação geral, que possibilita que os profissionais apliquem esses conhecimentos em diferentes profissões — explica.
É um fenômeno semelhante à Administração, que tem crescido muito na EAD. Segundo Lúcia, essa área segue atraindo muitos alunos por permitir diversos caminhos profissionais no mercado de trabalho.
O reitor da Universidade Feevale, José Paulo da Rosa, ressalta que a busca por empregabilidade contribui com isso.
— Temos falado muito sobre as profissões do futuro, e algumas das atuais carreiras deixarão de existir. Mas a sociedade ainda carece de pessoas com boa formação nestas profissões tradicionais, como Psicologia, Pedagogia, Medicina. Então, essas áreas são escolhidas em detrimento de outras que certamente terão sucesso no futuro. Mas as pessoas precisam de emprego para hoje — destaca.
Área da Saúde em alta
Psicologia, Farmácia, Medicina, Enfermagem, Biomedicina e Fisioterapia estão entre as graduações que permanecem em alta, considerando o número de matrículas. Os cursos de Saúde podem ser considerados “case de sucesso” quando se trata de atrair estudantes no Ensino Superior, e não somente em Medicina.
Segundo a pró-reitora de Gestão com Pessoas da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Ana Claudia Vazquez, os cursos da instituição têm bastante procura, principalmente os mais tradicionais. Os estudantes vão atrás dessas graduações em busca de colocação no mercado de trabalho e uma boa remuneração.
— Temos dados que mostram que nossos egressos estão muito bem colocados no mercado (...). São profissões que exigem muito estudo, e eles gostam de se desafiar. Esse desafio que eles têm aqui, incluindo a pesquisa, a extensão, e a possibilidade de fazer a diferença na sociedade é um grande motivador para as pessoas.
Para Ana Mariane Marques Barroso, 22 anos, aluna do 4º semestre de Medicina na UFCSPA, que deseja trabalhar junto à indústria na área de pesquisa, as perspectivas são boas.
— Eu escolhi o curso por três razões. A primeira é a vontade de acolher as pessoas, direta e indiretamente, tanto com atendimento, com a pesquisa. O segundo é a estabilidade financeira, das condições de vida, é uma oportunidade imensa. E a terceira é o meu sentimento de compatibilidade com o curso — conta a jovem.
A área de Saúde, como um todo, passou a ser mais valorizada após o período da pandemia de covid-19, segundo o presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Celso Niskier.
— Enfermeiros, psicólogos, biomédicos, fisioterapeutas, todos esses são carreiras em ascensão, porque há uma necessidade de atender a uma população afetada pelas sequelas da pandemia. Mas, também, uma população que vem envelhecendo, que é o caso da população brasileira. Essas carreiras ligadas ao cuidado humano terão uma demanda crescente — argumenta.
Niskier alerta que, mesmo que sigam em alta, é importante que esses cursos sigam se reinventando, aderindo às novas tecnologias e formando profissionais preparados para utilizá-las, como a inteligência artificial (IA).
— Muitas áreas já estão sendo transformadas pela tecnologia, e as instituições precisam se adaptar a isso. Profissionais de Direito que não saibam usar recursos de IA não estarão bem formados, por exemplo. Quanto mais cedo os cursos trouxerem essas novidades para a formação profissional, melhor — destaca.
Para o reitor da Feevale, os avanços da tecnologia impõem a necessidade de formar "profissionais para o futuro", mesmo nas áreas mais tradicionais. Rosa ressalta que, para que isso aconteça, é necessário planejar mudanças nos currículos e implementar programas e conteúdos inovadores nos cursos de graduação.