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Escolas de Porto Alegre começaram o ano letivo engajadas no cumprimento da lei federal que restringe o uso de celular em sala de aula. Nesta segunda-feira (17), 67 mil alunos voltaram às atividades na rede municipal.
Com maior número de estudantes no município (1,7 mil), a Escola Municipal de Ensino Básico (Emeb) Doutor Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, zona norte da Capital, espalhou cartazes que alertam para a norma federal.
Além disso, os estudantes tiveram de depositar os aparelhos em recipientes plásticos antes de seguir para a sala de aula. Uma professora recebia os dispositivos e colocava neles uma etiqueta com o nome do aluno. Depois, os smartphones seriam depositados em uma sala, onde ficariam chaveados até a hora da devolução, no fim do turno.
— Dentro da escola, não concordo (com o uso do celular). Faço com que eles não tragam. Acho que não há necessidade — disse Daniel Carvalho, 43 anos, que acompanhava os dois filhos na volta às aulas.
Filha dele, Isabella, 10 anos, pediu um pouco de flexibilidade no uso.
— Acho uma boa, porque o celular tira atenção. Poderia ter algum horário específico para usar, mas sempre tendo foco nos estudos. No recreio, tem que se exercitar, brincar e interagir com as outras crianças — disse a estudante do quinto ano.
Conforme Rochele Soares, diretora do Liberato Salzano, a logística de retirada do celular da sala já estava sendo trabalhada com a comunidade escolar mesmo antes da lei.
— O uso em sala de aula estava abusivo. Vamos seguir conversando para que eles entendam que é só uma coisa a mais para trazer, porque não vão utilizar. Os alunos não terão perda nenhuma pedagógica porque temos chromebooks. Não é pelo não uso do celular que estarão prejudicados — pontuou.
A instituição foi atingida pela enchente de maio de 2024 e precisou passar por uma reforma para receber os alunos. Foram investidos R$ 9 milhões na melhoria das estruturas e compra de mobiliário, recurso oriundo da iniciativa privada.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Antônio Giúdice, no bairro Humaitá, também na Zona Norte, 750 alunos do primeiro ao nono ano do Ensino Fundamental voltam às atividades nesta segunda.
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A instituição optou por não retirar os celulares dos estudantes antes da aula. Segundo Carolina Rodrigues, vice-diretora da instituição, a lei federal apenas reforça um trabalho já feito pela equipe escolar para controlar o uso.
— Não temos como ficar cuidando de 700 telefones. Solicitamos que os alunos do primeiro ao quinto ano não tragam. Os demais que trazem orientamos a deixar na mochila. Dizemos que o celular "não pode aparecer" dentro da escola — explicou.
Conforme a professora, o descumprimento da orientação gera avisos aos pais sobre o comportamento, que, se persistir, pode acarretar o acionamento do Conselho Tutelar.
Aluno do sétimo ano, Victor Yuri Pereira, 12 anos, disse estar adaptado às regras da escola sobre o uso do dispositivo.
— Tenho celular desde os seis anos e hoje trouxe porque minha mãe pediu para trazer caso precise avisar alguma coisa. Usamos com o auxílio do professor e paro quando ele pede para parar. Não usar não me atrapalha —pontuou.
Mudança também na rede privada
A lei federal que restringe o uso de celulares também é válida para as escolas particulares. No Colégio Santa Inês, no bairro Petrópolis, a direção optou por oferecer armários nas salas de aula para depositar os dispositivos. No ano passado, escaninhos foram instalados, e os estudantes eram convidados a guardar os aparelhos.
— Com a constituição da lei, mudamos o uso dos armários, que passaram a ter portas com chave. Não é mais um convite: é uma convocação para guardar. Os celulares são guardados no primeiro período e o armário só é aberto para devolução no fim da aula — explica Fabiana Pinto Pires, coordenadora do Ensino Médio do Colégio Santa Inês.
A medida vale para todos os 1,3 mil estudantes da instituição. Segundo Fabiana, o colégio tem tablets para o uso pedagógico da tecnologia, o que faz com que celulares sejam desnecessários, na avaliação da direção.
Outro componente fundamental para construção de uma escola com menos smartphones é a família:
— Em um levantamento que fizemos, 70% dos interlocutores dos estudantes eram familiares. Eles os deixavam aqui para ter aula, mas ligavam, mandavam mensagem. O aluno saía da sala, ia ao banheiro, só para atender. Toda a comunidade acaba se educando nesse processo de reorganizar a atenção dos estudantes — acrescenta.
Aluno do segundo ano do Ensino Médio, Guilherme do Rosário, 15, disse ter observado uma diferença “gritante” após o início dos esforços para retirar o celular da sala de aula.
— A atenção está diretamente no professor, porque não tem a escolha de pegar o telefone e mexer. Tu vai ter que interagir com quem está ao teu lado, vai entender melhor a explicação, porque nada desvia o foco — disse.