
Mesmo em um cenário marcado por desafios econômicos internos e externos, a indústria mostra sinais de atualização e recuperação no Rio Grande do Sul. Em 2025, 75% do setor deseja investir em seus negócios — maior patamar em cinco anos. Os dados são de pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs).
Necessidade de modernização, busca por automação e reconstrução após a enchente ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas e integrantes do setor.
Além do maior percentual em cinco anos, esse dado de 75% dos industriários com desejo de investir está 13,7 pontos percentuais acima da intenção apresentada para 2024 (61,3%). No entanto, vale ressaltar que 2024 terminou com resultados acima do projetado (veja mais abaixo). Os dados da pesquisa atual foram coletados no início do ano.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Giovani Baggio, afirma que essa movimentação no setor ocorre na esteira de três fatores principais. Uma dessas causas é a atualização das plantas por necessidade, com as empresas buscando melhorias tecnológicas para continuarem competitivas no mercado. Outro ponto são os aportes em razão de recuperação pós-inundação.
O terceiro elemento nessa equação está ligado à dificuldade de conseguir trabalhadores. O economista afirma que um dos temas da pesquisa da Fiergs fala que a maioria das empresas que compraram máquinas e equipamentos tem a intenção de mecanizar a produção e trazer mais automação maior nos seus processos:
— Tem um mercado de trabalho apertado e a questão demográfica. Então, as empresas, de certa forma, estão fazendo um movimento para tentar depender menos de profissionais, dado a dificuldade que elas têm de encontrar esses trabalhadores.
Baggio afirma que a pesquisa não pega detalhes como principais segmentos da indústria que dominam essa intenção de investir. No entanto, destaca que ramos como os de alimentação e de máquinas e equipamentos costumam ter destaque nesse processo no Estado.
Recursos para a produção
A economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), também destaca essa atualização por necessidade. Como o setor convive com um cenário adverso, marcado por juro alto e incertezas sobre o comércio internacional, a busca por modernização deve dominar boa parte dessa intenção, segundo Maria Carolina:
— Existe aquele investimento que o empresário não pode mais esperar, talvez a maior parte desse investimento, dessa taxa, está refletindo exatamente isso. Existe aquele movimento que o empresário tem que fazer, que tem a ver com a renovação de frota, com a renovação de equipamentos. Uma reposição muitas vezes, mais do que renovação, de alguns equipamentos.
O economista-chefe da Fiergs reforça esse ponto, destacando que, muitas vezes, as empresas precisam investir para continuar produzindo a mesma quantidade. Ou seja, essa decisão não ocorre necessariamente para aumentar a capacidade de fabricação, mas sim seguir com o mesmo volume em um ambiente com maquinários e equipamentos mais eficientes e modernos.
Objetivos
Esse último ponto levantado por Baggio também aparece na pesquisa. O levantamento da Fiergs aponta que a melhoria do processo produtivo já existente é o principal objetivo para os investimentos do setor em 2025, com 45,4% dos empresários apontando esse propósito. Esse percentual é 5,5 pontos percentuais maior do o resultado apontado na pesquisa anterior.
A ampliação da capacidade produtiva perdeu espaço nos planos, com 35,1% dos negócios citando essa finalidade empresas (-3,2 pontos ante 2024). Já a introdução de novos produtos no mercado e a introdução de novos processos produtivos tem menos espaço no bolo de objetivos (veja no gráfico).
Resultados em 2024
Em 2024, 74,3% das empresas conseguiram realizar investimentos no setor industrial do Estado, segundo a Fiergs. O indicador fechou acima das projeções iniciais para o ano, que apontavam a intenção em 61,3% dos empresários. Baggio afirma que os mesmos motivos que explicam a projeção para 2025 — atualização, mercado de trabalho apertado e recuperação da enchente — também ajudam a explicar o avanço expressivo em 2024, olhando apenas dados efetivos.
Mesmo com o bom percentual alcançado em 2024, o economista salienta que apenas 42,2% dos industriários realizaram seus planos de investimento de forma integral naquele ano — patamar acima de 2023 (40,2%), mas o quinto pior na série e abaixo da média histórica (48,3%). Esse cenário pode voltar a ser verificado em 2025, com problemas internos, como a questão fiscal, e externos, segundo Baggio:
— Talvez isso também ocorra em 2025, ainda mais com essas incertezas que vão se acumulando. No cenário externo, por exemplo, a gente sabia que viria uma turbulência grande como o Trump, mas não nesse nível, não nessa intensidade, então talvez isso são elementos que façam com que as empresas repensem algumas coisas.
A pesquisa
- Abrangência: estadual
- Período de Coleta: 6 a 17 de janeiro de 2025.
- Amostra: 171 empresas (150 da Transformação e 21 da Construção)
- Portes das empresas: 41 pequenas, 59 médias e 71 grandes