
O apelo do presidente Lula aos Estados para que tentem conter a alta no preço dos alimentos a partir da redução do ICMS sobre produtos da cesta básica parece ainda não ter coro no Rio Grande do Sul. Para o governador Eduardo Leite, a responsabilidade da alta não é do imposto aplicado no RS, onde muitas alíquotas já são zeradas. Outros itens da cesta básica têm 7% de cobrança de ICMS.
— É importante lembrar de onde partimos. Leite, ovos, pães, frutas, verduras e legumes já são isentos no RS — disse Leite, citando o exemplo do ovo.
A proteína registra alta de 16,4% nos primeiros dois meses de 2025 e representa atualmente um dos maiores pesos na alimentação do brasileiro.
— A responsabilidade do aumento de preços dos alimentos não é do ICMS — reforçou.
Segundo Leite, o Piratini estuda outras alternativas que possam aliviar o peso inflacionário e diz que o governo vem dialogando com o setor supermercadista para buscar melhores caminhos.
A alta dos alimentos foi assunto entre uma série de outras agendas abordadas no Tá na Mesa da Federação de Entidades Empresariais do RS (Federasul), nesta quarta-feira (19). Cumprindo a tradição de receber o chefe de Estado gaúcho, o evento abriu o calendário do ano na casa da federação. A presença fechou uma trinca de visitas às grandes entidades representativas do RS nos últimos dias — na sexta (14), Leite falou na Fecomércio; na segunda (18), esteve na Fiergs.
Dívida
Assunto caro às contas públicas no RS, o governador voltou a mencionar o que chamou de "desigualdade entre os estados" no que compete ao pagamento da dívida com a União.
Segundo Leite, regiões que recebem incentivos fiscais, que têm fundo constitucional ou que recebem royalties são beneficiadas. Isso causaria, na avaliação do governador, um descompasso nas finanças e nas receitas geradas pelos Estados.
— Tem uma série de benefícios que são concedidos a essas regiões que não são concedidos a nós — criticou.
Um ano da enchente
Próximo de fechar um ano da maior tragédia climática que já atingiu o Rio Grande do Sul, Leite reconheceu a mobilização da União para ajudar o povo gaúcho. O ponto já havia sido mencionado na terça pelo governador, em crítica à manifestação da ministra Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, sobre suposta "ingratidão" dos Estados beneficiados pelo adiamento do pagamento da dívida.
Leite destacou o apoio federal durante a cheia, embora com ressalvas.
— Houve outra ação importante do governo federal, a qual agradecemos, que foi a construção de um fundo para o combate às enchentes, de R$ 6,5 bilhões. Muito importante e sabemos agradecer isso. (...) Embora com muitos soluços, porque a promessa vinha grande, depois a operação não fluía como se pedia, mas as coisas aconteceram. Talvez não na proporção que se propagandearam, mas não é possível dizer que o governo não fez nada pelo Rio Grande do Sul.
Ações de futuro
Ainda sobre enchente, o governador mencionou ações para evitar que novas tragédias aconteçam no curto e no médio prazo. Estudos estão sendo contratados para antecipar novas situações envolvendo as bacias hidrográficas do Estado, por exemplo.
Dragagem do Guaíba, desassoreamento de rios e contratação de equipamentos de monitoramento climático estão entre as iniciativas elencadas pelo governador para mitigar novas calamidades.
Planos ao Planalto
Trabalhando para divulgar feitos da gestão estadual até aqui, Eduardo Leite ainda não confirma que será candidato à Presidência do país em 2026, mas antecipa intenções.
Perguntado sobre a ausência de seu nome em pesquisas que já preveem um possível cenário eleitoral, o tucano disse não ter "nenhuma preocupação em relação a isso".
— Estamos ainda distantes, e aparecer em pesquisa é pouco relevante — disse.
Sobre eventuais alianças para disputar o pleito, afirmou que o trabalho deve se dar em prol de um projeto, e não sobre derrotar Lula ou Bolsonaro.
Reformas
A palestra do governador fez um balanço de ações do Piratini, com desafios como estiagem e enchente no percurso da administração pública. E traçou novos pontos de partida da gestão, com planos orientados para o futuro e prioridades em educação e desenvolvimento econômico no decorrer do segundo mandato.
Entre os feitos, foram citados investimentos executados em rodovias, em acessos a municípios e ligações regionais. Também mencionou redução nos índices de segurança pública e programas de maior acesso à educação.