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O presidente da Argentina, Javier Milei, está enredado em uma polêmica envolvendo o mercado de criptomoedas. O caso da $LIBRA desencadeou uma crise política no país vizinho e alerta para os cuidados com o mercado digital. Os criptoativos têm as mesmas funções das moedas de cada país e podem ser usados em manobras para obtenção de lucro.
O ocupante da Casa Rosada postou na sua conta no X que o ativo era "um projeto privado" destinado a "incentivar o crescimento da economia argentina. Milei forneceu o nome e o link para a página da criptomoeda. Logo em seguida, a cotação disparou, atingindo um pico de US$ 4.978 (cerca de R$ 28.512), segundo a AFP.
Horas depois, especialistas do mercado de criptomoedas passaram a alertar que a $LIBRA poderia ser uma "furada" para os investidores, pois a maioria das cotas estava nas mãos de poucas pessoas.
Abaixo, entenda o que são, como funciona e de que maneira se proteger para evitar golpes na hora de investir no mercado de criptomoedas.
O que são criptomoedas
Ativos digitais que, na prática, são utilizados e desempenham praticamente as mesmas funções econômicas das moedas, com reserva de valor, meio de troca e unidade de conta.
O que é o bitcoin?
Considerada a primeira criptomoeda que de fato se estabilizou e teve sucesso no mercado. Atualmente, segue como a mais popular, além de ser a mais valorizada.
O que são stablecoins?
São criptomoedas lastreadas em algum outro ativo — como o dólar, na maioria dos casos. Por isso, são consideradas mais estáveis. A mais demandada deste tipo no mundo atualmente é a Tether (UDST).
O que são altcoins?
É o termo é usado para identificar qualquer criptomoeda diferente do Bitcoin. O “alt” vem da palavra altenative (alternativo, em inglês) e o “coin” significa moeda em inglês.
Tokenização
Além das criptomoedas, há também outros criptoativos passíveis de investimento, criados via tokenização. Por meio deste processo, é possível atribuir valor a algo e negociar este item, seja ele existente de modo físico ou não — podendo representar um imóvel ou uma obra de arte digital, por exemplo.
Cuidados no mercado de criptoativos
Conforme Paulo Boghosian, diretor-executivo da Pandhora Investimentos, qualquer pessoa pode abrir uma criptomoeda ou criptoativo, por isso é preciso alguns cuidados antes de investir. É preciso saber reconhecer projetos sérios dos demais para evitar cair em golpes.
Paulo afirma que diariamente, centenas ou até milhares de novas criptomoedas são lançadas no mundo, para isso, basta dominar o conhecimento básico das ferramentas necessárias para desenvolver uma. De acordo com Boghosian, o processo é relativamente simples, pois já existem templates, modelos pré-prontos, que ajudam nisso.
Essa facilidade dá margem para que surjam as chamadas memecoins, que basicamente são criptoativos sem uma tecnologia específica por trás ou o desenvolvimento de alguma novidade para o mercado. Geralmente levam o nome de algum personagem ou personalidade.
— Quando a gente fala de investimento nesse tipo de coisa (memecoins), está falando literalmente em fazer uma aposta. É um comportamento muito mais parecido com jogar no cassino do que propriamente um processo de investimento robusto, onde existe uma análise dos fundamentos daquele projeto, se existe uma equipe confiável, se a tecnologia é revolucionária — explica Boghosian.
Ao comparar com apostas em cassinos, ele alerta que investir em memecoins é apostar em um negócio onde, frequentemente, algumas pessoas possuem informações privilegiadas, os chamados insiders. Boghosian diz que é como um jogo PVP, player versus player (jogador contra jogador), onde um toma dinheiro do outro sem realmente gerar um valor adicional para a economia.
Além das memescoins e as criptomoedas mais conhecidas, como o é o caso do bitcoin e do ether, existem as altcoins. Estas são novidades no mercado, mas que possuem potencial de investimento.
— Eu diria que o investimento em altcoins é muito mais parecido com o investimento de venture capital, de capital de risco, por exemplo, ou o investimento em private equity (compra de participação em empresa). Então, o é investimento em novas tecnologias que têm o potencial de gerar receita e potencial de disruptar o mercado tradicional — exemplifica o diretor-executivo.
Como evitar golpes
Por ser um mercado relativamente novo, alguns cuidados são recomendados antes de investir recursos em criptoativos. Boghosian elenca ao menos três passos para evitar cair em golpes.
1º passo: saber o propósito do criptoativo
— A primeira coisa que é o mais óbvio, é o produto. O que é ou qual é o propósito desse cripto. Geralmente, elas (as criptomoedas) estão conectadas a algum tipo de produto. Por exemplo, uma corretora descentralizada, uma plataforma de empréstimos que a gente chama de peer to peer, ou seja, o usuário direto com outro usuário, possuem redes que a gente chama de redes de contratos inteligentes, os smart contracts. Esse é o caso do Ethereum ou da Solana — recomenda.
Os smart contracts funcionam de forma que o valor é pago no momento em que a transação de um produto é feita. Como exemplo, o advogado e professor de Direito e Criptoativos no mestrado da Unisinos, Manoel Gustavo Neubarth, compara com a compra de um imóvel, onde a matrícula passaria automaticamente para o nome do comprador no momento do depósito do valor, trazendo segurança para ambas as partes.
Então, um cripto ativo ou token precisa ter um propósito, como ser necessário para fazer transações dentro de um ecossistema de aplicativos ou rede de smart contracts.
2º passo: entender a tecnologia
— Esse é um pouco mais complexo. É importante ler o whitepaper, que é como se fosse o plano de negócios daquele token e, a partir daí, você consegue entender como funciona aquela tecnologia, saber o que tem de revolucionário por trás e que o que o time está criando resolve um problema real. Todas essas perguntas a gente precisa fazer para entender se o token é viável e é sério — detalha Boghosian.
O especialista explica que esse ponto é importante para saber se aquela tecnologia realmente está solucionando um problema ou uma demanda significativa para que aquele criptoativo ou token possa gerar valor de alguma forma.
Ele também recomenda estudar o histórico da equipe por trás do projeto. De acordo com Boghosian, existem profissionais que são conhecidos no meio da criptografia, pela técnica e competência, como também existem outras conhecidas por serem golpistas no mercado de criptoativos.
3º passo: estudar sobre o mercado cripto
— Se for investir em criptoativos de forma séria, eu recomendo estudar. Começar fazendo um trabalho educacional para entender no que você está investindo e se faz sentido a sua tese de investimento. Isso vale para todo e qualquer investimento, principalmente em criptoativos, porque existe um conhecimento muito específico e técnico envolvido.
Conforme Boghosian, o fato de existir muito conhecimento técnico envolvido é o que faz com que seja fácil para que pessoas que não conhecem e não entendem da tecnologia sejam enganadas. O uso de termos específicos, muitas vezes em inglês, ou vocabulário mais complexo dificulta a verificação do criptoativo por pessoas que não são do meio.