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O desemprego voltou a mostrar retração entre jovens no Rio Grande do Sul. No quarto trimestre de 2024, a taxa de desocupação na população com idade de 18 a 24 anos caiu para 9,1% no Estado. Trata-se do menor nível para esse grupo em um 4º trimestre desde 2012, quando ficou em 8,8%.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Demanda aquecida por trabalhadores e diminuição da população nessa faixa de idade nos últimos anos estão no centro desse movimento, segundo especialistas.
A taxa de desocupação mostra o total de pessoas desocupadas dentro da força de trabalho. No quarto trimestre de 2024, o Rio Grande do Sul contava com 70 mil pessoas com idade de 18 a 24 anos desempregadas — 26 mil a menos do que o total observado no 4º trimestre de 2023. Historicamente essa faixa de idade costuma enfrentar maior dificuldade de inserção no mercado por causa de pouca idade, falta de experiência e menos qualificação para alguns postos.
Além de emplacar o segundo menor percentual para um quarto trimestre na série histórica, a taxa de desemprego dessa turma está bem abaixo dos valores observados em um passado recente. Por exemplo, no quarto trimestre de 2019, no pré-pandemia, a taxa ficou em 15,7% (veja no gráfico).
O coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues, afirma que a queda no nível de desemprego entre os jovens pode ocorrer diante do aquecimento do mercado de trabalho como um todo e do envelhecimento da população no Estado. A busca aquecida por trabalhadores em um ambiente com menos jovens acaba reduzindo a taxa de desocupação, segundo o pesquisador.
A gente tem uma oferta de mão de obra no Estado que, em função da questão etária, vai ser decrescente. Ao mesmo tempo, mantendo-se um crescimento da economia, vamos continuar com uma demanda por mais trabalhadores. Então, tem essas duas questões.
WALTER RODRIGUES
Coordenador da Pnad Contínua no RS
Dados da Pnad reforçam a análise de Rodrigues. No quarto trimestre de 2024, eram 991 mil pessoas com idades entre 18 e 24 anos no Rio Grande do Sul. No mesmo período de 2023, eram 1,054 milhão nessa faixa etária. Ou seja, o Estado perdeu 63 mil jovens nesse grupo em um ano. Já a parcela com 60 anos ou mais subiu de 2,234 milhões para 2,266 milhões no período.
O percentual de desemprego na população de 18 a 24 anos não é o menor entre as faixas de idade pesquisadas, mas esse é o grupo que apresentou o seu menor patamar em período mais alongado. Ou seja, é o ramo que registrou o seu menor nível de desemprego em um período maior de tempo.
No geral, pegando todas as idades, a taxa de desemprego no Estado fechou o quarto trimestre de 2024 em 4,5%.
Outras formas de trabalho
O professor de economia do trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Cássio Calvete também entende que a queda na taxa de desemprego nesse grupo de idade responde, principalmente, ao crescimento da conomia no país, que deve fechar 2024 com alta de cerca de 4% Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, Calvete afirma que o aumento nas possibilidades de trabalho nos últimos anos, como aplicativos de entrega, podem ter efeito na queda da desocupação, mantendo parte dos jovens com alguma ocupação.
Tem essas ocupações que não olham tanto o perfil da experiência, que permite um emprego sem passar pelo crivo de uma seleção maior. A gente pode especular que isso pode estar auxiliando a diminuir a taxa de desocupação entre os jovens, porque eles podem ter um emprego que basta aderir a uma plataforma.
CÁSSIO CALVETE
Professor de economia do trabalho da UFRGS
Calvete destaca que, mesmo sendo postos mais precários, essas modalidades acabam sendo uma alternativa para pessoas que não se enquadram nos pré-requisitos de algumas vagas ou que não querem ir para o regime formal pela falta de flexibilidade.
O professor de economia do trabalho afirma que o avanço da formação nos últimos anos, com uma série de incentivos para cursos de nível técnico e superior também pode ter participação nesses dados ao retirar parte dos jovens do grupo que trabalha ou busca emprego:
— Então, além da questão do bônus populacional, tem a revalorização do Ensino Superior, do ensino tecnológico, que vai absorver parte dessa população também.
Futuro
Especialistas ouvidos pela reportagem de Zero Hora avaliam que a dinâmica do emprego no país e no Estado nos próximos meses vai depender de desdobramentos da atividade no país e dos novos rumos da política econômica internacional.
O professor Cássio Calvete avalia que a estimativa de novo crescimento da economia em 2025, mesmo em patamar abaixo de 2024, cria ambiente para manter a taxa de desocupação baixa. No entanto, a projeção fica um pouco nebulosa diante das incertezas internacionais, segundo o professor:
— A gente está num mundo que está difícil de prever. O governo Trump está ameaçando com aumento de tarifas, que pode diminuir o comércio internacional. (...) Então, está bastante difícil prever os acontecimentos mundiais. Olhando para o cenário interno, eu vejo boas perspectivas. Mas olhando para o internacional, eu já tenho mais dificuldade de perceber isso.