Mesmo com desafios impostos por desastres climáticos e regulamentação, o Rio Grande do Sul segue expandindo a capacidade de gerar energia solar. Em 2024, a potência instalada do setor ultrapassou a casa dos 3 mil megawatts (MW) e avançou 16,73% ante o fim de 2023. Apesar da expansão, o ramo mostra sinais de perda de ritmo diante de acomodação após pico na busca por benefícios em um passado recente.
Para 2025, a tendência ainda é de desaceleração diante de alguns fatores como dólar e juro em alta, aumento do imposto de importação e limitação na liberação de novos pedidos. No entanto, também existe espaço para crescimento no uso de sistemas com baterias, segundo especialista.
Até o dia 10 de dezembro de 2024, a potência instalada da energia solar no Rio Grande do Sul estava em 3.117 MW. No fim de 2023, o Estado concentrava 2.670,2 MW, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). A potência instalada mostra a capacidade que o sistema tem de gerar energia e entregar aos usuários ligados à rede.
O número de unidades consumidoras (UCs) recebendo créditos também apresentou alta. Até dezembro de 2024, o Estado tinha 448.851 UCs. Um ano antes, eram 396.839 UCS. Ou seja, avanço de 13,11%. No modelo de sistema de geração distribuída fotovoltaica, a sobra da energia gerada pela unidade vira créditos de energia solar, que podem ser utilizados pelo consumidor para abater o valor da conta de luz.
A coordenadora estadual da Absolar no Estado e sócia da Solled Energia, Mara Schwengber, afirma que o setor caminha para uma normalização na expansão após o pico observado em 2022. Naquele ano, teve uma explosão na busca por sistemas solares para garantir menos taxação às vésperas de mudança na lei.
A gente está vivendo hoje um período diferente. Depois de todo aquele ponto do crescimento, estamos em um crescimento mais estável.
MARA SCHWENGBER
Coordenadora estadual da Absolar no Estado
Sobre o impacto da inundação no setor, Mara afirma que é difícil ter um dado mais preciso sobre os estragos, mas afirma que diversas usinas foram afetadas pelo aguaceiro de maio.
Gargalos para 2025
Para 2025, o setor de energia solar convive com cenário mais desafiador no país e no Estado. Como boa parte dos produtos usados pelo ramo são importados, dólar estacionado na casa dos R$ 6 e aumento na taxa de importação de painéis solares alteram a cadeia de custos e respinga sobre os preços finais.
— Já começou a aumentar. O dólar subiu, as primeiras importações com imposto já chegaram, então, já se começa a perceber um aumento de preços neste ano. Mas não vai voltar aos patamares de valor que a gente já teve no passado. A gente deve ainda ficar muito distante disso, porque o custo do produto baixou muito — diz Mara.
Outro entrave para a expansão maior da energia solar está no âmbito da regulamentação. As normas federais que tratam sobre a inversão de fluxo determinam que áreas não podem gerar mais energia do que consomem. Essa limitação segue travando novos empreendimentos, segundo a coordenadora da Absolar.
Aline Pan, professora do curso de Engenharia de Gestão de Energia da UFRGS, também cita que a trava gerada pela inversão de fluxo deve ser o maior freio para o setor. Segundo a docente, esse problema afeta todos os portes de consumidores, mas acaba penalizando mais os que tem menos estrutura.
A gente está com bastante dificuldade em todos os projetos, mas os grandes (empreendimentos) têm fôlego, tem pulmão para aguentar os problemas, enquanto que os pequenos não. Então, acaba inviabilizando toda a situação.
ALINE PAN
Professora do curso de Engenharia de Gestão de Energia da UFRGS
A coordenadora da Absolar afirma que, mesmo com todos esses desafios, o setor deve seguir avançando em 2025, mesmo que em ritmo menor ante anos anteriores.
Baterias devem puxar avanço
Mesmo com a perda de ritmo esperada para 2025, a coordenadora da Absolar projeta que os sistemas híbridos, com uso de baterias, devem puxar o avanço do setor. Mara afirma que os custos para instalar esse tipo de tecnologia estão menores na comparação com um passado recente, abrindo espaço para os usuários melhorarem o retorno do investimento:
— Hoje, por exemplo, o sistema híbrido com bateria para uma residência, um inversor mais um módulo de bateria que vai atender a cargas primárias, não toda casa, mas vai atender as principais cargas, a gente fala num payback (retorno do investimento) igual era lá em 2022, 2023, sem bateria. Então, com a redução do preço das baterias e dos equipamentos de energia solar, a gente consegue hoje uma viabilidade econômica desses projetos.
Já a professora Aline Pan entende que os preços das baterias ainda seguem elevados, o que torna essa alternativa uma solução mais viável para clientes com maior poder aquisitivo e que precisam proteger o sistema.
Oportunidade de emprego
A coordenadora da Absolar afirma que muitas empresas que trabalhavam com a instalação de sistemas de energia solar fecharam nos últimos anos após a explosão de adesão em 2022. Agora, com a tendência de alta no uso de sistemas híbridos, existe espaço para profissionais mais especializados:
— Quando a gente fala em sistemas híbridos, precisa ter um conhecimento técnico maior, tanto de engenharia, como de instalação, porque vai mexer na parte elétrica da casa, da empresa. Não é como o sistema solar, que é basicamente instalado e conectado. Então isso também exige mais mão de obra especializada, exige que os profissionais também dominem essas novas tecnologia.