O Grupo Ecovix deu mais um passo para consolidar a recuperação de suas atividades no Estaleiro Rio Grande. A empresa, que administra o ativo no porto de Rio Grande, no sul do RS, recebeu três novos navios para a realização de reparos – um petroleiro da Argentina e dois pesqueiros chineses. A previsão é concretizar as reformas, que demandarão por 150 contratações, em 20 dias.
Essa deverá ser apenas a ponta de uma retomada mais consistente em um dos setores que em curto período se tornou intensivo em mão de obra e experimentou apogeu e derrocada em menos de seis anos no Rio Grande do Sul. É o que projeta o diretor de operações, Ricardo Ávila, ao detalhar as perspectivas que sustentam o reaquecimento do mercado e dão otimismo para consolidar o cumprimento da nova etapa da recuperação judicial da empresa homologada em março deste ano.
Mais do que os três novos reparos que, hoje, totalizam nove desde o princípio da crise, há oportunidades para o descomissionamento de plataformas. Trata-se de uma operação inédita para os estaleiros nacionais, antes, realizada em países como Índia e Paquistão, agora com R$ 5 bilhões carimbados pela Petrobras nos próximos quatro anos. A meta é de que uma fatia desses contratos possa ser abocanhada pela Ecovix, comenta Ávila.
Também fazem parte das estratégias de médio prazo da estatal petrolífera brasileira a construção de 26 plataformas, com destinação de US$ 9,8 bilhões para isso. Seriam três novos navios a cada doze meses, o que formaria um mercado de R$ 3,2 bilhões anuais no país. Por regra, entre 30% e 40% dessas contratações precisam de conteúdo local, o que coloca o estaleiro de Rio Grande outra vez no páreo.
— Para as próximas, as P-84 e P-85, com edital já lançado, temos condições operacionais de pegar parte disso. São alguns pilares do plano de recuperação judicial que vão sendo atingidos: os reparos são uma realidade, assim como as operações portuárias e abrem-se ótimas expectativas com os atuais novos investimentos programados em novas construção e desmantelamentos — resume Ávila.
Uma trajetória de geração de vagas de trabalho interrompida
Em 2010, ano de criação da Ecovix com foco na construção naval e offshore, a empresa passou a administrar o empreendimento do Estaleiro Rio Grande com o maior dique seco da América Latina e dois pórticos, um de 600 toneladas e outro de 2 mil toneladas. Não demorou a conquistar posição e projetos de destaque no mercado nacional.
Teve participação de cascos de plataformas como a P-66, entregue em 2014. No estaleiro, até o encerramento do contrato pela Petrobrás em 2016 – em decorrência de desdobramentos da Operação Lava Jato que determinaram a falência da Sete Brasil, um dos braços da Estatal afetados pelas investigações de corrupção – também passaram as P-67, P-68 e o P-71 (100% fabricado) e o P-72 (80% fabricado) e que não foram aproveitados pela Petrobras.
Essas construções navais em plena operação, atingem, segunda dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), 176 mil BOE (barris de óleo equivalente) por ano. Para se ter uma ideia da influência e do potencial da empresa, antes da Ecovix , o município de Rio Grande detinha 778 empregos no polo naval, ou 69,5% das 1.119 vagas disponíveis nesse segmento no Estado.
Um ano após o início das atividades da Ecovix, em 2011, as oportunidades aumentaram em mais de 150%, bateram em 2.895 postos de trabalho no RS, dentre os quais 2.387 estavam no porto gaúcho, o que equivale a 85% do total.
No ano seguinte, em 2012, o setor já contabilizava 7.171 funcionários no Estado e 6.695 deles estavam lotados em Rio Grande. O apogeu viria em 2015 com 8.585 postos de trabalho: 7.190 no município. Em 2016, ano do encerramento abrupto dos contratos com a Petrobrás, eram 8.355 empregos no RS e 5.486 na cidade.
Mas em 2017 e 2018 essa indústria sumiu e não houve contratações naqueles anos. Em 2019 e 2020 e movimento tímido permitiu a abertura de 232 e 197 ocupações, respectivamente, em Rio Grande.
Entenda o atual cenário
- Com o fim de encomendas por conta de preços mais favoráveis dos navios-sonda da China, além de denúncias apuradas pela operação Lava-Jato, houve mudanças na Petrobras.
- Ao coibir desvios apurados pela operação, a nova orientação da estatal, com compras do exterior, afetou a indústria nacional e o polo naval de Rio Grande não escapou da realidade.
- Os estaleiros do Estado dispensaram milhares de trabalhadores e colocaram a cidade marítima de Rio Grande em uma situação socioeconômica difícil.
- Nos últimos meses, diversas tentativas para reativar as encomendas foram feitas e agora o estaleiro da Ecovix analisa o mercado em busca de novos pedidos para alavancar o setor
- A chegada das três embarcações para reparos aconteceu uma semana após o grupo ter quitado créditos com 130 microempresas e empresas de pequeno porte.
- Isso depois que os chamados créditos com garantia real já terem sido pagos e as obrigações com as demais classes credoras colocadas em dia.
- Em 8 de março, a 2ª Vara Cível de Rio Grande homologou o aditivo ao plano de recuperação judicial da companhia, aprovado em 23 de janeiro.