
O Twitter anunciou nesta sexta-feira (15) medidas para resistir à oferta pública de aquisição feita por Elon Musk, no valor de mais de US$ 43 bilhões, destinada a comprar a rede social para transformá-la em uma plataforma que, segundo ele, garanta a liberdade de expressão. A estratégia do Twitter contra o homem mais rico do planeta é conhecida como "poison pill", ou "pílula de veneno", no jargão financeiro.
A medida torna mais difícil para um acionista acumular muita participação da empresa sem a aprovação do conselho, ativando uma opção que permite que outros investidores comprem mais ações com desconto. Isso aumentaria muito o preço que Musk teria que pagar para assumir o controle total da rede social. A medida será ativada se Musk adquirir mais de 15% das ações da empresa sem a autorização do conselho.
O magnata de origem sul-africana, dono da montadora de carros elétricos Tesla e da empresa aeroespacial SpaceX, detém atualmente pouco mais de 9% do capital social do Twitter. O plano "reduzirá a probabilidade de qualquer entidade, pessoa ou grupo obter o controle do Twitter por meio da acumulação de mercado aberto sem pagar a todos os acionistas um prêmio de controle adequado ou dar ao conselho de administração tempo suficiente para tomar decisões informadas", explicou a empresa, sediada em San Francisco, nos Estados Unidos.
O Twitter mostra, assim, que pretende resistir à proposta do popular empresário de comprar a rede social e torná-la uma empresa de capital fechado.
— É uma tática defensiva que era previsível — afirmou Dan Ives, analista da empresa de investimentos Wedbush. Mas não será vista "de forma positiva" pelos acionistas, devido ao risco de uma "diluição" das ações, o que é contraproducente.
E o plano "certamente será combatido na Justiça", ressaltou, porque o conselho de administração tem a obrigação de agir no interesse da empresa e aumentar seu valor para os acionistas.
Sempre provocador
Elon Musk abalou o mercado financeiro e o mundo da tecnologia na quarta-feira (13), quando anunciou uma proposta para comprar o Twitter a um preço de US$ 43,4 bilhões, acima do valor atual de US$ 36 bilhões.
Seu plano enfrenta questionamentos em várias frentes, incluindo uma possível rejeição e o desafio de levantar o dinheiro oferecido, mas pode ter ampla repercussão na rede social se for concretizado.
Na quinta-feira (14), Musk declarou que tem "fundos suficientes" para a transação e disse que tinha um plano B caso o conselho do Twitter rejeitasse a oferta. Além disso, ele enfatizou que não estava procurando ganhar dinheiro com a aquisição, durante uma entrevista ao vivo na conferência Ted2022.
O bilionário não detalhou como financiaria a compra, mas provavelmente teria que se endividar ou vender algumas de suas ações da Tesla ou da SpaceX.
Muito ativo e popular no Twitter, onde tem cerca de 82 milhões de seguidores, mas ao mesmo tempo muito crítico em relação à política de moderação de conteúdo da plataforma, Musk diz que quer tornar a rede social a plataforma de "liberdade de expressão", com menos limites sobre o que os usuários podem escrever.
Tendo comprado 73,5 milhões de ações ordinárias da empresa no início da semana passada, ele foi convidado a se juntar ao conselho de administração, mas acabou recusando a oferta, após oferecer uma série de sugestões para modificar a plataforma, incluindo a adição de um botão para editar tuítes ou o remoção de publicidade, principal fonte de renda do Twitter.
Adepto de polêmicas e piadas, Musk também publicou alguns tuítes provocativos, questionando se o Twitter não estaria "morrendo" porque algumas contas com muitos seguidores postam pouco conteúdo.
Na quinta-feira, o magnata reconheceu que não tinha "certeza de poder comprar" a empresa e explicou que esperava reunir o maior número possível de acionistas em seu projeto. No entanto, não poderá mais contar com pelo menos um deles.
O príncipe saudita Alwaleed bin Talal disse no Twitter que rejeitou uma oferta muito baixa. Musk respondeu ironicamente sobre a "liberdade de expressão da mídia" na Arábia Saudita. Mas a influência e a pressão de Musk deixaram pouca escolha aos executivos do Twitter, disseram analistas da Wedbush Securities, que acreditam que o conselho de administração da rede social terá que aceitar a oferta ou encontrar outro comprador.
"Achamos que essa novela terminará com a aquisição do Twitter por Musk após essa oferta hostil", disseram eles em nota na quinta-feira, antecipando uma onda de possíveis perguntas sobre financiamento, aspectos regulatórios e como o bilionário dividiria seu tempo entre suas várias empresas.
"O conselho não gosta de Musk porque discorda dele em quase tudo e seu estilo é incompatível com a cultura corporativa" do Twitter, disse Dan Ives em uma análise publicada na quinta-feira no Daily Mail.
Mas o conselho não tem muita escolha, ainda segundo Ives, porque "Musk parece tão determinado a administrar o Twitter quanto a SpaceX ou a Tesla".