O ano de 2021 parece ter consolidado a retomada das principais empresas do Rio Grande do Sul com capital aberto. Balanços das 15 maiores companhias gaúchas com ações negociadas na B3, a bolsa de valores, apontam receita líquida que soma R$ 140,8 bilhões no acumulado do ano passado, R$ 50,3 bilhões a mais em relação a 2020. Esse montante representa crescimento de 55,6% no faturamento ante 2020. O resultado é puxado por empresas ligadas a commodities, que sofreram menos com os impactos da pandemia nos últimos anos, segundo especialistas. Por outro lado, empresas voltadas ao comércio interno crescem em ritmo menor.
Assim como em outros recortes de tempo, a Gerdau tem maior participação nessa alta. A empresa fechou 2021 com receita líquida de R$ 78,3 bilhões — pouco mais da metade do total de faturamento das 15 empresas.
Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, afirma que existe uma distinção entre essas 15 companhias no âmbito do crescimento observado em 2021. Ele destaca que empresas ligadas a commodities e insumos, como Gerdau, Randon e SLC Agrícola, conseguiram manter ritmo de produção durante o período mais complicado da pandemia e contaram com demanda aquecida. Por outro lado, empresas de ramos mais atrelados ao consumo, como Renner e Grendene, apresentaram passos mais lentos nesse processo, conforme explica Bianchi Filho:
— Como regra geral, quem estava lidando com comércio, consumo que dependia de pessoas na rua, sofreu mais. Já as indústrias que fabricavam bens e insumos se saíram muito bem.
Os dados do fechamento dos balanços das empresas em 2021 corroboram a análise do diretor da Fundamenta Investimentos. A receita líquida da Randon, por exemplo, avançou 68,9% em 2021 ante o ano anterior. Já os números da Grendene nesse indicador avançaram 23,5% no mesmo período.
O sócio-diretor da Fundamenta Investimentos salienta que os negócios ligados a commodities, além de apresentar resultados expressivos em relação a 2020, também estão crescendo com ritmo exponencial em relação ao patamar pré-pandemia.
O economista Gustavo Bertotti, da Messem Investimentos, afirma que as empresas ligadas ao mercado internacional se beneficiaram de dois aspectos principais durante a pandemia: dólar em alta e retomada após período de demanda reprimida. Essa soma de câmbio favorável e demanda em alta garantiu crescimento mais expansivo para esses negócios, segundo o economista.
— O choque foi a ruptura que a gente teve em 2020 e a demanda reprimida que foi gerada em cima disso. São setores que foram mais resilientes e se beneficiaram desse cenário. De um dólar mais alto, que favorece empresas exportadoras, e dessa retomada. Essas empresas continuam se beneficiando agora com os impactos da guerra (entre Rússia e Ucrânia) — explica Bertotti.
O economista da Messem destaca que companhias ligadas a commodities também sofrem menos com aspectos internos da economia do país, como guinada de inflação e taxa de juro básico. Esses problemas afetam mais os negócios que dependem de demanda interna aquecida e de poder de compra maior da população.
Das 15 maiores companhias gaúchas com capital aberto, apenas duas apresentaram queda na receita em 2021 (veja mais abaixo). Uma delas é a Marcopolo, fabricante de carrocerias e ônibus. O setor de transporte público está entre os principais afetados pela diminuição de circulação durante a pandemia.
A soma do lucro dessas empresas subiu 310% em 2021 ante 2020. Assim como na receita, o destaque fica por conta da Gerdau, que acumulou lucro de 15,4 bilhões no período — avanço de 555% em relação ao ano anterior. Das 15 companhias, 12 registraram lucro maior na comparação com 2020.
Expectativas para o futuro
Especialistas avaliam que 2022 tende a seguir com movimento mais confortável para empresas ligadas ao mercado internacional. A demanda aquecida por commodities, que foi impulsionada pelo conflito no leste europeu, é um dos fatores que ajudam a bancar essa análise.
Nesse sentido, o sócio-diretor da Fundamenta Investimentos afirma que empresas do ramo de commodities tendem a seguir com números melhores, mas com crescimento em ritmo mais lento:
— Dá para esperar a manutenção desses patamares de lucro e receita, sem grandes crescimentos da mesma magnitude que foram observados nesse último ano.
A gente acredita que, no segundo semestre, essa inflação vai começar a perder força. Se o dólar continuar no patamar que está, com o real ganhando força frente ao dólar, vai ajudar muito nessa inflação
GUSTAVO BERTOTTI
Economista da Messem Investimentos
Bianchi Filho afirma que o dólar, que vem apresentando queda de valor nas últimas semanas no país, pode trazer impactos negativos para as empresas exportadoras nos próximos meses. No entanto, esse movimento pode ser amenizado pelo aumento do preço das commodities com cotação em dólar, segundo o gestor. Sobre a estiagem, que castigou o Estado, Bianchi Filho afirma que o problema não tem maior impacto sobre essas empresas, pois são negócios com portfólio diversificado geograficamente.
No âmbito das empresas mais ligadas ao consumo, o diretor afirma que a inflação segue pressionando o poder de compra dos brasileiros, o que dificulta o avanço desses negócios. Com isso, o especialista projeta que 2022 ainda não será um ano de recuperação mais expressiva para essas companhias.
O economista Gustavo Bertotti, da Messem, também estima um ano mais favorável para empresas ligadas a fatores externos da economia. Em relação às companhias com foco no varejo e na demanda interna, o especialista destaca que esses negócios precisam de cenário com retração na inflação e nos juros para avançar com mais folga. A queda do dólar é um dos componentes que podem criar esse ambiente mais favorável para o setor, segundo Bertotti:
— A gente acredita que, no segundo semestre, essa inflação vai começar a perder força. Se o dólar continuar no patamar que está, com o real ganhando força frente ao dólar, vai ajudar muito nessa inflação. Assim, o setor tende a acompanhar essa melhora. Mas ainda é um setor que é penalizado porque a inflação é persistente.