Vinte meses e 20 dias abaixo de 10% ao ano, a taxa básica de juro retoma o patamar de dois dígitos, trazendo com ele não só a perda de um grande objetivo da política econômica do governo e, de outro lado, preocupação inequívoca com a trajetória da inflação. E tem mais: o aumento de ontem da Selic de 9,5% para 10% ao ano não deve parar por aí. O radar já parece apontado para 2014. Depois dessa elevação, o mercado indica sua percepção de novas altas.
Cauteloso, mas seguro e fielmente agarrado às rédeas de defesa da moeda, o Banco Central mira 2014 e os efeitos que virão do afrouxamento monetário nos EUA. Política que, fatalmente, se refletirá no nosso país, elevando o dólar e desvalorizando o real. E, como temos alta participação de componentes importados na atividade econômica, haverá pouco espaço para se fugir do efeito nos preços dos produtos fabricados aqui.
Como não existe consenso para tudo, o instrumento da alta de juro é questionado por duas razões essenciais. Primeiro, a taxa mais baixa não incentivou a economia, ainda em marcha lenta. Segundo, o governo poderia adotar estratégias diferentes para combater a inflação: política fiscal mais contracionista, aumentando o nível de superávit primário e aprofundando reformas, mesmo pequenas, mas relevantes.
Ao usar a expressão "dependentes da Selic", Antoninho Trevisan clama por mais controle dos gastos públicos, alerta para a perda de competitividade da indústria e para a necessidade de se reduzir despesas não essenciais. Sem essa mudança de rota, ficamos, mais uma vez, reféns da Selic para combater o mal maior - a inflação.