Há duas décadas que a CEEE está vergada sob o fardo de uma dívida trabalhista que reduz os investimentos na rede elétrica. Em 2011 - último dado disponível -, o peso era de R$ 407,696 milhões. É mais do que o dobro dos R$ 164 milhões aplicados em distribuição e transmissão de energia no mesmo período.
O passivo trabalhista já foi maior - em 2005, chegou a R$ 736 milhões -, mas não cede a um ritmo que permita o saneamento da empresa. No momento, é o dobro do registrado em 1995. São 9.430 ações pendentes - como se cada um dos atuais funcionários tivesse duas reclamatórias. Algumas se arrastam há 20 anos. A situação se agravou com a privatização parcial, em 1997, no governo Antônio Britto. Para tornar mais atrativa a oferta, dois braços da distribuição foram desmembrados e vendidos para os grupos AES e CPFL, mas as pendências ficaram com a parte estatal.
A epidemia de processos trabalhistas atingiu a CEEE sem que o corpo jurídico da empresa reagisse. Em 1999, auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) apuraram uma média de 180 novas ações por mês - seis por dia. Por desleixo ou má fé, advogados perderam prazos para a defesa.
Foi rumoroso o caso de um diretor financeiro da CEEE, no início da década de 1990, que atuou como advogado de servidores em demandas trabalhistas. O então governador Alceu Collares (PDT) estrilou:
- Entregamos o galinheiro às raposas.
Não foi por falta de alerta que a situação escapou ao controle. Em 2006, o TCE avisou que a dívida trabalhista ultrapassava em 42 vezes o patrimônio líquido. A proporção vem caindo lentamente, como um cancro que não cede a tratamento. O atual presidente da CEEE, Sérgio Souza Dias, diz que a empresa paga, a cada ano, quase R$ 300 milhões em débitos trabalhistas. Admite que o problema não foi devidamente enfrentado:
- Vem há anos, não se resolvia, não se enfrentava, até porque não havia recursos.