Com a maior alta dentro da inflação no ano passado, as despesas pessoais desbancaram os gastos com alimentação na variação de preços e confirmaram o reforço no poder de compra dos brasileiros. Depois de pressionar o custo dos alimentos, a renda maior da população faz os serviços que vão desde gastos com empregados domésticos e hotéis até com manicures e cabelereiros aumentarem a pressão na inflação.
Em 2012, a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 5,84%, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os grupos de gastos pesquisados pelo IBGE, o de despesas pessoais registrou a maior variação, 10,17%, após fechar em 8,61% no ano anterior.
- Ao ganhar mais, o brasileiro passou a ter mais condições de demandar esses serviços que, consequentemente, tiveram alta de preço - diz Irene Maria Machado, gerente de pesquisa do IBGE.
Para manter o empregado doméstico, as famílias pagaram 12,73% mais em 2012. O item foi líder na relação dos principais impactos individuais. Conforme Irene, esses trabalhadores estão cada vez mais escassos, o que aumenta a remuneração.
Na relação de gastos pessoais, também tiveram forte alta os preços de hotéis, costureira, manicure e cabelereiro. Mesmo percebido, o aumento não diminuiu a procura. Muito pelo contrário.
- Notei que o preço subiu, mas não deixo de fazer a unha toda a semana. A questão não é apenas de vaidade, mas de manter uma boa aparência - afirma a bancária Helenara Pletz, 35 anos.
Controle na ponta do lápis
A psicóloga Marion Kravetz Schartz, 59 anos, também vai ao salão de beleza regularmente. Uma vez por semana para fazer unhas e pelo menos uma vez por mês para retocar a cor do cabelo:
- Posso deixar de comprar uma roupa mais cara, mas não deixo de fazer esses serviços. Dou muita prioridade para a minha aparência.
No salão de beleza que frequenta no bairro Moinhos de Vento, zona nobre da Capital, a movimentação diária de clientes aumentou em pelo menos 25% no último ano, relata o cabelereiro Matheus Tauber, proprietário do estabelecimento:
- Costumo dizer que no mercado da beleza não existe crise. As pessoas podem se privar de outras coisas, mas não de se sentir bem visualmente.
O grupo de alimentação e bebidas, que tem o maior peso na composição do IPCA e por meio do qual as famílias mais percebem o peso da inflação, também subiu no período: 9,86%.
O peso maior das despesas pessoais no bolso do consumidor, aliado à disposição cada vez menor de abrir mão desses serviços, pode tornar obrigatório o recálculo de gastos para evitar o estouro do orçamento.
- Uma boa dica é fazer um levantamento das despesas, das básicas às dispensáveis - orienta o educador financeiro Edward Cláudio Júnior.
Com os gastos de alimentação, moradia, vestuário, água e luz detalhados no papel, o consumidor pode saber o quanto poderá ser destinado a outras despesas - sem entrar no vermelho.
O educador financeiro reforça que pequenos ajustes podem fazer a diferença, especialmente na hora de gastar naquilo que realmente é importante. Conforme o Instituto Akatu, o brasileiro desperdiça em média 30% dos serviços que consome.
- Uma boa experiência é fazer uma análise dos serviços contratados, de televisão por assinatura a planos de celular, e verificar o que realmente está sendo usado. Pode parecer chato, mas é uma medida eficiente - conclui Cláudio Jr.
IPCA - O "oficial"
Embora o Brasil não tenha índice oficial de inflação, essa condição foi atribuída ao IPCA, calculado pelo IBGE por servir de referência para o Banco Central acompanhar o sistema de metas de inflação. É mais abrangente: mede a variação de preços para famílias com renda de até 40 salários.
INPC - O dos salários
Também calculado pelo IBGE, tem fórmula e períodos de pesquisa semelhantes ao IPCA, com uma diferença: mede a variação de preços do consumo de famílias com renda de até cinco salários. É usado em negociações sindicais e pelo governo para repor as perdas com inflação.
IPC (Dieese) - O democrático
Calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mede variação de preços apenas no município de São Paulo. É calculado em três extratos: o primeiro até três salários, o segundo até cinco e o terceiro, para famílias com ganho de até 30 salários.
IGP-M - O do aluguel
Calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), é composto por três diferentes subíndices: ao produtor (peso de 60%), ao consumidor (peso de 30%) e na construção civil (peso de 10%). Como pesquisa preços no atacado, é mais sensível a altas e baixas na cotação do dólar.
IPC (Iepe) - O metropolitano
Mais antigo índice de inflação da Região Metropolitana de Porto Alegre, é calculado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas da UFRGS. Tem levantamentos semanal e mensal, para famílias com renda de até 21 salários mínimos, R$ 14.238 a valores de hoje.
IPC-s (FGV) - O rapidinho
Tem levantamento semanal e intervalo curto entre o fim da coleta de preços e a divulgação, de apenas um dia. Mesmo calculado a cada sete dias, mede a variação das quatro últimas semanas até a data de fechamento. É feito pela FGV em Porto Alegre e outras seis capitais.