Quebra no agronegócio e alto comprometimento da renda com dívidas dificultaram a vida dos gaúchos na hora de pagar as contas. Enquanto a inadimplência no país caiu 4,8% entre março e abril, no Estado o número de atrasos cresceu 5,2%.
Estudo do SPC Brasil com base nos dados de entidades lojistas aponta o Rio Grande do Sul na contramão do Brasil. Varejistas que trabalham com itens que tiveram os impostos cortados recentemente para estimular o consumo, como móveis e eletrodomésticos, viram a inadimplência chegar próxima de 20% em algumas cidades.
- Consumidores das regiões agrícolas perderam muito dinheiro com a quebra da safra no início deste ano, e agora têm dificuldades para pagar as contas em dia - explica Vitor Koch, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado (FCDL).
Com a economia sustentada pelos serviços, Porto Alegre apresentou menos problemas. O atraso nos pagamentos caiu 1,8% de março a abril, conforme o Serviço Central de Proteção ao Crédito, calculado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas da Capital. Na comparação com abril do ano passado, entretanto, os calotes cresceram 4,8%.
- As pessoas estão comprometendo a renda com financiamento de bens duráveis, e muitas vezes não conseguem pagar as compras do dia a dia- avalia Gustavo Schifino, presidente da CDL da Capital.
Expectativa é de recuo das taxas em junho
As taxas de inadimplência devem começar a cair no Estado a partir de junho, quando começam a ser pagos os seguros para quem perdeu a safra, e os cortes nos juros anunciados pelos bancos cheguem com mais força ao varejo, projeta Koch. A expectativa é de que gaúchos se alinhem à tendência nacional de queda nos calotes.
Embora os atrasos nos pagamentos tenham crescido 4,4% em abril em relação ao mesmo mês de 2011 no país, há uma tendência de queda gradativa no indicador. O estudo do SPC Brasil mostra que o pagamento de contas em atraso, indicador chamado de recuperação de crédito, cresceu 6% em abril em relação ao mesmo mês de 2011.
- Com os juros em baixa, a tendência é que os consumidores voltem a negociar os atrasados, e isso cria um movimento de queda na inadimplência- explica Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças.
É o caso de Ana Paula Cardozo de Souza, que depois de três anos com o nome no SPC resolveu acertar suas contas. Munida de comprovantes de renda, documento de cobrança e identidade, foi ontem ao posto de atendimento no Mercado Público da Capital para negociar uma dívida de R$ 600 com uma empresa de telefonia.
- Consegui um emprego há dois meses e juntei dinheiro para negociar desconto no pagamento à vista - conta.