
Mesmo sem números oficiais, o balanço da Expodireto Cotrijal é mais do que positivo. A edição que marcou os 25 anos da feira encerra nesta sexta (14) com sentimento de feito histórico em Não-Me-Toque, no norte do RS. Principalmente pelo momento particular da agropecuária gaúcha, vivendo outro ciclo de estiagem e perdas acumuladas.
Presidente da Cotrijal e anfitrião da mostra de tecnologias para o setor, Nei Manica diz que a edição coroou a trajetória de crescimento da Expodireto ao longo dos últimos anos.
— É um ano importante porque marca uma história. Quando começamos, jamais imaginamos que chegaria neste momento com tanta pujança do agronegócio no Rio Grande do Sul e no mundo. Fica o nosso agradecimento muito especial aos expositores que investem aqui e que trazem oportunidade para que todos que passam pela feira busque conhecimento que seja aplicado ao longo do ano — destacou.
Diferentemente de edições anteriores, este ano a organização decidiu não divulgar números finais. Mas entre os expositores, a percepção foi de bons negócios. Em 2024, foram quase R$ 8 bilhões comercializados.
Presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no RS (Simers) e da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Cláudio Bier vê a feira como oportunidade para os produtores renovarem as suas frotas. O que tende a acontecer mesmo em meio às dificuldades, já que as máquinas mais modernas são importantes também para que se alcance maior produtividade.

— Quem pode está, sim, comprando porque sabe que vai melhorar o negócio. Fora os clientes que não tiveram seca. Eles também compram. De todo modo, saíram negócios importantes. Muitos produtores não faziam há praticamente dois anos compras por causa das dívidas, mas neste tempo as máquinas evoluíram muito e é preciso renovar — avaliou Bier.
Na agricultura familiar, que a cada ano amplia participação no parque, a feira relembrou o espírito de resiliência dos produtores. Para o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura no RS (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, o sucesso do pavilhão mostra que o setor se recupera muito rápido, mesmo com pandemia, estiagem, enchente e outra seca.
— Apesar de todo o momento que o agricultor está vivendo, sempre é muito bom ter uma Expodireto — disse Joel.
Ausência federal
Palco de reivindicações políticas do setor, a edição encerra com pautas em aberto. A ausência do governo federal na feira foi sentida pelo setor.
— É festivo, mas é também reflexivo. Aproveitamos para falar dos temas que são urgentes, mas sentimos falta do governo federal. Significa que não tem nada para nos oferecer. O lado bom é que saímos da feira alinhados entre as entidades e mais preparados para buscar as soluções das nossas demandas — acrescentou Joel.
Presidente da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Gedeão Pereira reforçou o coro quanto às cobranças.
— O agro deveria ser mais respeitado. O governo federal já vem sendo avisado das urgências do Rio Grande do Sul desde as últimas intempéries. E desde então a dificuldade só aumentou — disse Gedeão.

Apesar das dificuldades entre os produtores atingidos, o presidente da Farsul destacou a capacidade da Expodireto para engatar negócios que não se restringem aos cinco dias de exposição:
— São 25 edições e a feira só aumentou. Inclusive, devemos voltar no ano que vem com ampliação. A feira é uma vitrine e é partir dela que os negócios se concretizam ao longo ano.
Reforço nas cobranças
As demandas por ajuda aos agricultores não se esgotam na feira. Fora dela, continuarão sendo dois focos: encontrar uma solução para as dívidas e buscar medidas de amparo financeiro. Uma audiência pública do Senado na tarde desta sexta-feira fechará a edição com novo encaminhamento da pauta ao governo federal.
Marcando posição na Expodireto, o movimento SOS Agro aproveitou a concentração de agricultores e de entidades para reforçar os pedidos de alongamento das dívidas.
— Vamos bater muito na tecla de que só temos até o dia 30 de abril para resolver (o vencimento das dívidas). E como fica a próxima safra? — questionou Graziele Camargo, produtora rural e representante do SOS Agro.