A temporada de verão está a todo vapor e o desejo de muitas mulheres é levar aquele cooler geladinho para a praia, estender a canga na areia e se deitar sob o sol com o som das ondas quebrando ao fundo. Só que o hábito de se bronzear e a busca pelas marquinhas de biquíni precisam ser encarados com muito cuidado.
Para começo de conversa, a secretária científica da Sociedade Brasileira de Dermatologia Secção Rio Grande do Sul (SBD-RS), dermatologista Renata Heck, alerta que o ideal seria não haver uma exposição solar excessiva que chegasse a bronzear a pele. Isso porque o bronzeado é uma defesa natural da pele contra a radiação ultravioleta em excesso, a qual é prejudicial à saúde e aumenta o risco de câncer de pele.
— Se a pessoa está bronzeada, significa que se expôs em excesso ao sol e seu corpo precisou se defender produzindo mais melanina. É uma resposta a um dano. Portanto, pensando em saúde e em risco de câncer de pele a longo prazo, o indicado seria não se bronzear — afirma a médica.
Apesar da indicação, sabe-se que é difícil ficar completamente longe do sol, especialmente de dezembro a março, quando boa parcela da população tem férias ou recesso, e as confraternizações ao redor da piscina são frequentes. Quem quer mesmo ficar no sol pode fazer um ajuste na rotina para evitar se expor no período das 10h às 16h, quando a radiação ultravioleta é mais intensa.
— Nunca diremos que o bronzeado é uma coisa positiva, mas, quem quiser ficar bronzeado, que o faça em um horário fora do pico de raios ultravioletas. Sempre com proteção solar, deixando que a cor venha lentamente, preferencialmente ao longo de semanas, dentro de uma adaptação que ocorre naturalmente no verão. Só que as pessoas geralmente têm pressa, querem ficar bronzeadas para já e acabam se queimando — destaca Renato Marchiori Bakos, professor de dermatologia da UFRGS e chefe do serviço de dermatologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Se não puder evitar os horários de maior risco, a exposição precisa ter uma fotoproteção mais intensa, criando barreiras físicas e químicas para se proteger do sol e impedindo que a radiação chegue diretamente à pele. Para isso, é indispensável usar protetor solar com fator de proteção de, no mínimo 30, e, em caso de uso de bronzeador, é preciso certificar-se de que o produto tenha associado um protetor solar de FPS 30, ao menos.
— O que há de evidência é que o uso de protetor solar de FPS 30 para cima seria uma proteção suficiente, adequada. Já pacientes que tratam doenças fotossensíveis (que são estimuladas pelo sol), como manchas, melasma e lúpus, a sugestão é usar uma fotoproteção mais alta — detalha Renata.
Quanto às barreiras físicas, é indicado o uso de chapéu, óculos escuros, roupas com tecido mais grosso e camisetas com proteção contra radiação ultravioleta. Também é indicado ficar sob guarda-sol ou barraca, sempre com protetor solar, já que mesmo à sombra é possível queimar a pele, pois o sol reflete na areia e na água, e pode queimar. Vale lembrar que o mormaço também queima, já que a radiação consegue ultrapassar a camada de nuvens.
Atenção mães e pais: pensando especialmente nas crianças, a sugestão é intensificar as barreiras físicas de proteção, já que os pequenos entram e saem do mar com frequência e brincam na areia, o que faz com que o protetor solar saia. Vale investir no uso de camisetas com proteção ultravioleta e chapéus que criem uma fotoproteção.
Opções de protetores solares
O mercado está repleto de opções de protetores solares, inclusive com produtos para o corpo todo ou específicos para a área do rosto e pescoço. A principal diferença entre os dois tipos, segundo a dermatologista, está na cosmética, e não no grau de proteção. Ambos protegem contra o sol.
— Os produtos formulados para uso na face normalmente têm uma cosmética mais adequada para a questão de oleosidade, espalhabilidade, sensação do toque, mas não há muita diferença na questão de fotoproteção — descreve Renata.
Há quem prefira a praticidade dos protetores em spray, que de fato são produtos testados, aprovados e que funcionam tanto quanto um protetor em creme, segundo Renata, se aplicados de forma adequada. O problema é que frequentemente as pessoas aplicam em quantidade insuficiente:
— A pessoa dá uma ou duas “espreizadas” rápidas e acaba usando uma quantidade menor. No caso do protetor solar em creme, a pessoa acaba usando uma quantidade maior, o que fornece uma proteção maior.
E a vitamina D?
Não existe uma determinação do tempo máximo que uma pessoa poderia ficar no sol por dia, mas sabe-se que quanto mais clara a pele, menor sua proteção natural e, portanto, deveria ser mais cuidadosa e se expor menos aos raios solares do que alguém de pele mais escura. Pensando na produção de vitamina D, 10 minutos de exposição ao dia são suficientes, sem proteção solar.
— Não é indicada uma exposição solar extra para produção de vitamina D porque normalmente a exposição do dia a dia já seria suficiente para a produção adequada. Mas se o paciente vai se expor única exclusivamente para a produção da vitamina, a sugestão é que exponha áreas de pele em que normalmente ficam cobertas por roupas, como abdômen, barriga, costas e coxas, as quais acumularam menos dano solar ao longo do tempo — indica a médica.
Me queimei, o que fazer?
Se você bobeou e o "queimão" tomou conta, a orientação é não voltar a se expor ao sol enquanto a pele estiver queimada. Além disso, vale aumentar o consumo de água e hidratar a pele com o uso de cremes hidratantes ou produtos pós-sol. No caso de queimaduras mais graves, a orientação é procurar atendimento, pois pode ser necessário um tratamento.
— São consideradas queimaduras intensas aquelas que causam uma sensibilidade aumentada na pele, com possível presença de bolhas, dor e vermelhidão persistente, que não parece regredir com o passar do tempo. Nesses casos, o ideal é procurar o serviço médico, até para avaliar se o paciente não tem uma desidratação associada ao "queimão" e se necessita de algum medicamento para a queimadura — aponta Renata.
Risco aumentado para o câncer de pele
O maior filtro de raios ultravioleta do sol é a camada de ozônio. Só que essa proteção foi sendo danificada pela poluição, de modo que pegar sol hoje em dia está mais perigoso do que era há algumas décadas. Isso está relacionado ao aumento dos casos de câncer de pele, que hoje é o câncer mais comum no mundo.
— Sabe-se que a cada 1% de redução na camada de ozônio, há um aumento em 2% do risco de desenvolvimento de câncer de pele. No Rio Grande do Sul, inclusive, há um buraco um pouco maior na camada de ozônio que fez com que houvesse um aumento na incidência tanto do câncer de pele quanto dos riscos de exposição solar ao longo dos anos — afirma a dermatologista.
O professor de dermatologia da UFRGS Renato Marchiori Bakos destaca que a Região Sul tem registrado a maior incidência da doença no Brasil, tanto em homens quanto em mulheres, o que deve servir de alerta para os gaúchos.
De modo geral, há dois tipos de câncer de pele: os melanomas e os carcinomas (também chamados de não-melanomas). Ambos têm como característica serem mais frequentes em pessoas de fenótipo claro, ou seja, indivíduos de pele, cabelos e olhos mais claros – o que não quer dizer que a doença não ocorra em pessoas de pele mais escura. O câncer de pele melanoma também costuma estar ligado às pessoas que têm muitas pintas e sinais pelo corpo.
— Mesmo quem não tem o fenótipo claro pode desenvolver câncer de pele por causa da intensidade do sol. As queimaduras solares são um fator importante para câncer de pele, quanto mais episódios do famoso "torrão" acumulados ao longo da vida, situações em que a pessoa fica vermelha e eventualmente até descasca, especialmente nos primeiros 20 anos de vida, maior a chance de a pessoa desenvolver câncer de pele no futuro — conclui Bakos.
Máquinas e jatos
Vale lembrar que as máquinas de bronzeamento artificial que utilizam lâmpadas estão proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009.
A dermatologista Renata Heck detalha que esses aparelhos foram considerados perigosos à saúde pois emitem radiação ultravioleta concentrada, sem uma vigilância adequada, o que aumentava consideravelmente o risco de câncer de pele e de envelhecimento precoce da pele.
Já o bronzeamento com jato, conhecido como jet bronze, pode ser feito sem medo, pois apenas estimula a pigmentação da pele, mas não causa aumento de risco para o câncer de pele.