* Por Cristina Ranzolin, apresentadora do Jornal do Almoço, da RBS TV
Duvido que você não conheça uma pessoa que tem ou teve câncer de mama. E não é por acaso. Esse é o tipo de câncer com mais incidência no mundo e o que mais mata mulheres. Aqui no Brasil, a cada ano, mais de 66 mil mulheres são diagnosticadas, quase cinco mil no Rio Grande do Sul. Porto Alegre é a capital campeã em número de casos da doença.
É por isso que defendo que é aqui que esse assunto precisa ser tratado como prioridade, com um atendimento especializado, que possa ajudar a aumentar as chances de vida das mulheres vítimas.
Os tratamentos para o câncer de mama estão cada vez mais desenvolvidos. Quando os tumores são descobertos cedo, têm 95% de chance de cura, mas milhares de mulheres seguem morrendo, e cada vez mais cedo - hoje, 50% dos casos aparecem antes dos 50 anos.
Há quase um ano, fui diagnosticada com um tumor na mama esquerda. Já estou curada, mas sigo fazendo sessões de imunoterapia, e devo terminar ainda neste Outubro Rosa. Felizmente, faço parte de um grupo privilegiado, que engloba em torno de 22% dos gaúchos que têm plano de saúde. Pude escolher meus médicos, fazer todos os exames com qualidade e começar o meu tratamento imediatamente após o diagnóstico, que mostrava um nódulo ainda pequeno. E assim mesmo foi duro...
Imagino o horror que deve ser para quem leva tempo para conseguir consultar um médico, mais tempo para fazer um exame, recebe a bofetada de um diagnóstico positivo e tem que esperar para fazer uma biópsia porque não tem agulha. Quem é encaminhada para um hospital que está com dificuldade de atendimento e tem que esperar de novo, seja para começar as quimioterapias ou fazer uma cirurgia enquanto o tumor cresce, cresce e vai chegando a níveis que a medicina tem mais dificuldades para resolver... Quase uma sentença de morte.
Apesar das leis preverem mamografia para todas anualmente, a partir dos 40 anos, e prazo de 60 dias para começar o tratamento depois do diagnóstico, além de cirurgias reparadoras, muitas vezes isso não é cumprido.
Até quando mulheres vão seguir morrendo para que se mude essa realidade e se dê um tratamento mais digno? Quero provocar nossos governantes a mostrar que o Rio Grande do Sul pode ser exemplo no tratamento do câncer. Que, assim como temos delegacias especializadas para atender mulheres vítimas de tentativas de feminicídio, haja um atendimento especializado para atender os casos de câncer de mama. Que as mulheres deixem de ser empurradas pra lá e pra cá sem serem atendidas, e que possam ter acesso aos tratamentos mais eficazes mesmo pelo SUS.
E quero encerrar com um pedido: faça seus exames. Mulheres a partir dos 20 anos têm que tocar sua mama, se autoexaminar, e, a partir dos 40, exigir sua mamografia. Incentive suas amigas, familiares, colegas e vizinhas a fazer isso agora mesmo, para que não seja tarde demais...