Ele entrou no carro e se sentou no banco do motorista. Entrei pelo outro lado e me sentei no banco do passageiro. Fechamos as portas. Com a mão esquerda, ele segurou o volante, e com a direita, enfiou a chave na ignição. Antes de girar, olhou para mim, sorriu e perguntou: "com emoção ou sem emoção?"
Não seria nossa primeira viagem, éramos rodados. Ele dirigia bem, mas tinha uma falha no motor cerebral: acreditava que estradas eram circuitos de Fórmula 1. Entendi que havia feito uma piada e nem respondi. Ele sabia que o tempo das cretinices havia passado e pisou leve.
Batimento cardíaco acelerado nunca foi, para mim, sinônimo de viver intensamente. Colocar a vida em risco, durante a adolescência ou depois dela, só me alertava para a babaquice dos que não encontravam outra maneira de se destacar.
E havia tantas. Citar um poema de cor. Saber beijar. Enxergar e escutar os outros com atenção. Sou otimista o suficiente para acreditar que os homens já perceberam que fazer um carro disparar de 0 a 100km em sete segundos só provoca desprezo — acompanhado de profundos bocejos.
O contrário de "viver com emoção" é viver com emoção, só que sem as aspas. Eu me emociono ao ver uma poeta de cem anos de idade ser aplaudida de pé por leitores de 30, me emociono ao ver moradores de uma área inundada resgatarem os cães de rua, me emociono ao saber que um casal homossexual conseguiu engravidar através de uma inseminação — e não estou apelando para a memória, aconteceu ontem, anteontem, diante dos meus olhos.
Ninguém precisa fabricar emoções de araque, a não ser que seja um alienado. Em todos os séculos, houve guerras, colapsos e sustos diante das modificações dos costumes. Olhar para trás e dizer "bons tempos" é só uma forma de homenagear nossas reminiscências seletivas. Viver sempre foi uma barra. Ainda é. E será lá adiante também, com os dramas futuros.
Os dramas de hoje são saúde mental em crise, dificuldade de diferenciar o que é verdade e mentira na era digital, caos climático e a desigualdade que não cessa — ora diminui, ora aumenta, mas continua sendo nossa mais injusta calamidade.
Buscar conhecimento e aprofundar o saber, em vez de alienar-se, é que nos conduz à emoção genuína. A inteligência treina o olhar para os instantes sublimes, aqueles que nos confortam das aflições todas. Ao compreender e aceitar o mistério da vida e a dor da existência, abrimos frestas para que os encantamentos naturais nos arrebatem.
A emoção está sempre ligada à sobrevivência, mas não precisa ser produzida através de medidas estúpidas tomadas por pobres de espírito, cuja sensibilidade nunca foi estimulada.
Já acordamos a 100 km/h, todos os dias. Para comover-se, basta um segundo.