Quando eu estava na casa dos 20, tinha festa de casamento a cada mês: meus amigos formavam seus pares com a bênção de Deus, na igreja, e dos Bee Gees, no salão de algum clube. Na casa dos 30, foi a vez das visitas na maternidade. E hoje, infelizmente, tenho encontrado o pessoal em velórios, nas despedidas dos familiares mais idosos.
Ainda bem que os ciclos se renovam: estou voltando a frequentar festas de casamento, desta vez dos filhos dos amigos, aqueles bebês que um dia visitamos ao nascerem. E tudo mudou. Menos solenidade, mais simplicidade. Menos ambientes fechados, mais sítios, jardins, beira de praia. Menos sermões autoritários (“até que a morte os separe”) e mais palavras poéticas e divertidas do celebrante, em geral alguém do círculo íntimo dos noivos.
Promessas? Claro, enquanto fizerem sentido, não mais um pacto indestrutível. E como muitos casais já moram juntos e até procriaram, não raro são os filhos que levam as alianças do pai e da mãe no cortejo de entrada. Já vi até cães de estimação nesta função, e se saíram muito bem. Fim do mundo? Novo mundo.
Vida em movimento: estamos saindo do que é cerrado e exclusivo, rumo ao que é aberto e inclusivo. Falo de expansão de energia, de bons fluidos contaminando o ar. Foi o que senti num recente casamento realizado numa zona rural, a poucos quilômetros de Porto Alegre.
A previsão era de chuva, mas à medida em que os convidados iam chegando, à tardinha, e se posicionavam no gramado, os raios de sol sobressaíram e fiquei pensando que uma celebração que começa ainda de dia é transparente em suas intenções, convoca a luz natural para destacar a largura dos sorrisos e os olhares cintilantes.
As crianças se soltam, os trajes são mais criativos, a música se espalha. As risadas ganham eco, as pessoas se misturam e a natureza não cobra pela decoração: sem paredes, os sentimentos se amplificam. Ninguém fica prestando atenção se fulana está com o vestido adequado, se cicrano deixou a gravata em casa – ao ar livre, somos menos críticos, mais fraternos uns com os outros. Não há lugar marcado.
A noite caiu e teve jantar, pista de dança, mesa de doces – sob teto firme – e tudo continuou belo e despojado. Casamentos (seja um churrasco ou um bufê, um piquenique ou um banquete) são sempre festas felizes. É quando recuperamos a confiança no amor, sublime amor, superando as maledicências e os preconceitos.
Sabemos que a vida não é um passeio no bosque, mas quando duas pessoas se dispõem a unir-se a despeito de todas as dificuldades que a convivência traz, a gente suspira aliviado: as cerimônias estão diferentes, sim, mas a motivação segue a mesma, como lindamente demonstraram Clarissa e Laura, as noivas daquele fim de tarde em que o céu abriu.