Quando menina, nunca olhava embaixo da cama a fim de conferir se havia algum monstro aguardando que eu apagasse a luz para só então me atacar. Bicho-papão era coisa que não me apavorava, mas eu tinha um medo absurdo de areia movediça, como se isso fosse um perigo menos fantasioso do que monstros embaixo da cama. Ficava em pânico quando via cenas de filmes em que alguém caía numa poça melequenta e, sem conseguir nadar, ia sendo tragado aos poucos para o fundo. Help, um salva-vidas! Não havia. Até que, subitamente, alguém surgia com uma corda e resgatava a vítima que, a essa altura, estava apenas com as duas mãos para o lado de fora.
NOSSOS MONSTROS
Qualquer corda
Vinha fugindo da minha verdadeira identidade, sem coragem para ser uma pessoa mais original e livre e então corri, corri tanto que, quando vi, tchibum, caí nessa rotina movediça desgraçada, e o meu sonho de ser eu mesma ficou longe demais da minha realização
Martha Medeiros
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