A decoração de um restaurante é um convite, o prólogo da trama a seguir. Mesmo que pouco planejada e mais orgânica que seja, como em alguns botecos, ela reflete a essência do lugar, a história, necessidades e intenções daquele espaço. Agora, você consegue imaginar como seria esse prólogo em um restaurante que é também uma loja de design?
O Poeira da Lata traz isso com inspiração em Portugal e muito do melhor que o país pode trazer em lata, vidros e arte.
O enredo foi elaborado pela designer de interiores portuguesa Monica Penaguião que criou, junto com a Andrea Prado, das bolsas Grã, um espaço colorido e acolhedor anexo à sua já consagrada loja de decoração Poeira, no Leblon.
Paredes estampadas com fotografias com olhares sobre coisas cotidianas, móveis aconchegantes, mesas reservadas, iluminação baixa e trilha sonora dos anos 20 compõe o cenário da trama luso-carioca que revela a intenção das proprietárias em oferecer um espaço familiar, pessoal e bem diferente das badalações que beiram o barulhenta ali do Leblon.
Onde mais você tomaria vinho no copo baixo confortavelmente se não na "casa do amigo"? É bem por aí. Os móveis trazem um ar usado e parecem carregar histórias, bem como a louça vintage e guardanapos de pano.
Uma prateleira que ocupa boa parte de uma parede expõe conservas, vinhos e azeites à venda. Azeitonas, tremoços (muito amor), castanhas, azeites e peixes podem ser comprados e consumidos ali ou no seu lar.
Mesmo com uma boa carta de vinhos portugueses, resolvi ousar um pouco e tomar um Porto Tonica. Feito com vinho do Porto branco seco, água tônica e hortelã. Me lembrou G&T e Mojito juntos e foi ótimo para ajudar a reciclar o paladar naquela noite que ainda estava no início do primeiro ato.
O elenco principal, como o nome já sugere, vem da lata. Sardinhas, atuns e cavalinhas são servidas acompanhadas de feijões brancos, lentilhas ou grão de bico. Optei pela cavalinha com feijões brancos. Totalmente diferente das que já havia comido por aqui, esse filé era firme e suculento. E não se engane, essa porção satisfaz bastante.
Sugiro fortemente pedir uma porção de pães Slow Baked para "tchutchar" todo aquele saboroso azeite. Um destaque a esse coadjuvante-estrela. Crocantes e cheios de bolhinhas por fora, macios e firmes por dentro. Aqueles que fermentação é tão lenta que quando você corta parece que o interior chega a brilhar.
Entre arroz de pato e bacalhau espiritual, vi algo que me chamou atenção: ovos verdes. Nunca havia ouvido falar disso. Minha gulosidade (gula+curiosidade) foi maior e decidi provar essa iguaria. Ovos cozidos, onde a gema é retirada, temperada com bastante salsinha e depois devolvida. Empanado e frito.
Estava me sentindo parte desse discreto espetáculo. Ao mesmo tempo, me sentia em casa, aconchegada. A Ana me atendeu com tanto carinho e gostei demais de poder observar a cozinheira de lá, Dona Dora, preparar as coisas para mim e para os outros. Ficar ali próxima da gente faz tanta diferença.
Obviamente uma seleção de doces portugueses são vendidos ali (e boatos que iguais ao encontrados em Portugal): pastel de nata, bolo de amendôas, bolo caseiro e toucinho do céu. Mas me permiti deixar a sobremesa para próxima visita, já que agora eu estou me sentindo parte desse cenário também, volto após minha deixa.
Ao fim dessa peça teatral que saiu R$ 90,00 por pessoa, só queria pegar meu livro e ler até cochilar na poltrona.
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Poeira da lata e arte no Leblon
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