Na entrada da praia do Pântano do Sul, vire à esquerda e siga até encontrar uma casa amarela na esquina, com janelas verdes e brancas. Chegamos ao Bar do Vadinho. Muitos amigos já me falavam com brilho nos olhos, sempre com muitos elogios na ponta da língua, sobre a ótima comida e o próprio Senhor Vadinho, que comanda o Restaurante.
O restaurante é uma casa centenária pertencente à família do Seu Vadinho e foi construída utilizando óleo de baleia como o cimento daquela época. Lugar pé na areia, onde a gente pode comer com o visual maravilhoso da praia que tem um dos mares mais limpos da Ilha e o visual colorido dos barcos pesqueiros.
Fui com minha mãe e meu tio que também já havia ouvido falar sobre o lugar e estava curioso pra conhecer. Assim que sentamos, aparece Seu Vadinho pra conversar e, sabendo que era nossa primeira vez por ali, disse que quem experimenta sempre volta; mais tarde pude ter certeza disso.
Seu Vadinho passa por todas as mesas e conversa com todos os clientes como se estivéssemos fazendo uma visita à casa de um amigo, sempre com simpatia e reforçando o quanto os peixes são frescos. Ali, eles só servem peixes frescos, nada congelado e todos pescados pela região. Por isso mesmo o tipo de peixe não é mencionado no cardápio, pois o mar é quem decide, como ele mesmo diz.
A família toda trabalha no restaurante; a mulher faz a comida, a filha faz os pastéis e os filhos também ajudam na cozinha e atendimento. No cardápio, o mais solicitado é o “prato da casa”, cobrado por pessoa. São servidos filés de peixe a dorê (peixe-espada), peixe em posta frito (nesta época, “o mar escolheu” gordinho e sororoca), arroz, feijão, salada, batata frita, pirão de caldo de peixe e estopa, um ensopado feito com carne desfiada de arraia e/ou cação. Pedimos para três e logo chegou tudo numa bandeja.
Comida simples e fresquíssima! Fiquei maravilhada com o tempero caseiro e a qualidade de toda a comida. O feijão só leva sal e alho; o pirão, como disse Seu Vadinho, não leva nenhum colorífico, eles colocam abóbora pra dar aquela corzinha. A batata frita não é congelada e é cortada por eles mesmos; tão difícil comer batata frita caseira hoje em dia, né? Os filés de peixe-espada a dorê são muito crocantes por fora e com carne branquinha e macia por dentro.
Algo que me surpreendeu foi a estopa: carne de arraia desfiada e molhadinha na medida certa com um tempero marcante e maravilhoso. Alguns devem saber que essa carne de arraia e cação é muito vendida por aí como “carne de siri” e muito mais cara. Seu Vadinho faz questão de dizer que não tem necessidade de enganar ninguém vendendo e cobrando como siri algo que não é siri. Afinal, a carne de arraia é tão gostosa como podemos comprovar nesse prato.
Quanto mais a gente come, mais quer comer, acho que é essa comida fresca e leve que deixa a sensação de que sempre cabe mais um pouco. O legal é que se as porções que eles trouxerem não forem suficientes, eles repõem o que tu quiseres sem cobrar nada.
Acho que nem em casa eu já comi peixe tão fresco quanto esse e não me lembro da última vez que tive essa mesma sensação em algum outro restaurante.
Tivemos a sorte de receber a comida rápido pois o lugar não estava muito cheio, mas recebemos a recomendação de, se viermos no domingo, chegar entre 11 da manhã e meio dia, se não, é capaz de comermos só depois das 3 da tarde. De qualquer maneira, eu nem ligaria de esperar com um visual desses.
Só depois que me toquei que esqueci de registrar uma foto do folclórico Senhor que dá nome ao restaurante, a conversa fluiu tão bem durante o almoço que o tempo passou voando. A conta ficou em 99 reais para três pessoas (R$33 o prato completo por pessoa), sem incluir taxas nem bebidas. Posso dizer que foi a experiência mais manezinha e uma das melhores que já tive na Ilha. De hoje em diante, será minha recomendação número 1 para quem quiser conhecer a essência manezinha, simples e típica da Cidade.
destemperados
Bar do Vadinho: A essência de Florianópolis
Renata Diem
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