O que leva uma pessoa percorrer 11 km de distância para poder almoçar em outra cidade que não a sua? A gula, claro, e a ansiedade curiosidade em conhecer um lugar cuja comida e boa fama se destacam cada vez mais na mídia! E pra isso se faz necessário pegar um carro, ou, no meu caso, conjugar dois bons programas - comer bem e curtir um belo passeio pela Baía de Guanabara, pegando a barca para ir a Niterói.
E a razão disso tudo se chama Gruta de Santo Antônio. Um restaurante especializado em frutos do mar e com uma história bem bonita.
O estabelecimento já existia desde o final da década de 70, quando foi inaugurado por um português, o Sr. Agostinho (que aparece em foto antiga na parede). Depois de um tempo foi modernizado, sendo conduzido até hoje por sua viúva, e pelos dois filhos do casal, que com dedicação e muito trabalho o expandiram com competência.
Sendo Santo Antônio muito querido e o santo de grande devoção dos portugueses, não só ele dá nome ao estabelecimento, como está presente de várias maneiras no recinto, seja em imagens ou como nesse quadrinho de azulejaria, bem próximo à porta de entrada.
O restaurante é bem grande, com vários salões. Sua decoração é sóbria, com muitos elementos que remetem à cultura de Portugal. Fui num dia de semana e optei por ficar nesse ambiente menor, próximo à cozinha (opa!) e onde há muitos quadros com fotos da família. Tudo de bom gosto e discreto.
Chama a atenção essa bela pintura a óleo, da proprietária e chef de cozinha, Dona Henriqueta Henriques. Sua história se funde com a do próprio restaurante (destaco aqui) e é bem bacana. Ela é tão encantadora, que chega ao salão cumprimentando – “Olá, boa tarde, gente amiga!”.
Conforme já dito, a casa é portuguesa com certeza, tendo à frente da cozinha ela - Dona Henriqueta e seu filho Alexandre Henriques, também chef e enólogo. Pode-se dizer que o cardápio é robusto, com todos os pratos tradicionais da culinária de Portugal, sendo o seu forte os frutos do mar e pescados, principalmente o bacalhau, aliada a uma cozinha mediterrânea.
Enquanto eu ficava observando cada detalhe do ambiente, e fotografando o que me encantava, trouxeram um couvert de cortesia da casa. Já gostei da simpática recepção. Pães quentinhos e muito saborosos, produzidos lá mesmo, manteiga de qualidade e uma saladinha simples e gostosa!
Sempre peço água com gás e aqui eles têm “Água das Pedras”, a famosa água mineral natural gasocarbónica – 100 % gás natural, da Fonte do Parque Águas Salgadas, em Portugal. O preço é um tanto “salgado” (não resisti ao trocadilho), em razão do custo de importação, mas vale a pena, pois é tão leve e refrescante que harmoniza com a boa gastronomia. E também o azeite disponível de excelente qualidade!
Comecei com a leve saladinha temperada no azeite e pão com manteiga, mas cuidando pra não me exceder pro que viria a seguir.
Bom, preciso dizer que são dezessete (17!) sugestões de entrada. Todas tão absolutamente tentadoras e maravilhosas, entre as mais famosas e tradicionais receitas portuguesas, que fica difícil decidir! Tanto que o garçom Daniel (cito o nome dele, abrindo parênteses pra falar do profissionalismo e gentileza da equipe) explicou que tem muitos clientes que pedem somente as entradas. Claro que eu tinha que pedir o clássico bolinho de bacalhau!
Mas não é só um bolinho dourado, com muita cremosidade e bacalhau, não! Olha aqui o segredo: ele é recheado com queijo Serra da Estrela, uma criação do Chef Alexandre Henriques! Qualquer coisa de doido, de tão gostoso! Palmas!
E por falar no Chef, é ele também o enólogo e responsável pela carta de vinhos da seleta adega, com mais de 220 rótulos dos melhores vinhos de Portugal e de outros países. Acabei escolhendo o ótimo tinto alentejano Esporão Quatro Castas 2013 do produtor Herdade do Esporão.
Outra entrada sensacional é o pastel de nata de bacalhau. Para tudo! Que lindo e que delícia.
Para melhor apreciar essa iguaria, trouxeram uma garrafa exclusiva, de um azeite especial, o Ourogal Centenarium (garrafa de 1500 ml), uma série limitada feita com azeitonas galegas, de oliveiras centenárias oriundas do terroir banhado pelo Rio Tejo.
E o pastel de nata, cuja crocância da massa, aliada à cremosidade do bacalhau, ficou ainda mais maravilhoso regado com esse azeite, que o gentil garçom me serviu.
Aqui tem Alheira! Trouxe-me à lembrança, a memória gustativa da casa dos parentes de meu sogro português, na Guarda, aldeia na Serra da Estrela. Perguntei à gentil e sorridente Elsa, mulher do Chef, qual a diferença entre farinheira e alheira (tipos de lingüiça). E ela chamou Dona Henriqueta, a pessoa certa pra explicar. A primeira é feita com pão e gordura do porco. E a outra, também com pão e carnes de caça, entre elas, vitela, faisão, codorna, pato, frango e coelho. Com gostinho defumado. Vem fatiada, e era tanta a quantidade, que levei pros filhos em casa. Deliciosa!
Continuava abraçada ao cardápio, tentando decidir qual seria o prato principal, mas ao mesmo tempo com os olhos vidrados ainda nas entradas. Então, tá, traz um clássico – Sardinhas Portuguesas assadas na Brasa (unitária). Veio linda assim, e depois totalmente aberta, e retirada sua espinha, pronta a ser devorada.
A essa altura eu já tinha decidido que iria pedir só mais uma entrada (oi?), mas o chef mandou um agrado. Ops! Atum Escabeche: atum cozido, com molho de vinagrete, cebolinha e sal. Bom demais! Extremamente saboroso e suave.
Já havia solicitado Pataniscas de Bacalhau. Sabe o que é? Lascas de bacalhau cozidas em leite, com gotas de limão e fritas no azeite. Gente! Que troço bom!
Um detalhe; aqui é possível pedir meia porção de tudo, então, em vez de quatro unidades, veio somente duas (enormes), e claro que levei uma pra casa! Olha o close disso.
Uma coisa que impressiona é a quantidade (12) e variedade das receitas de bacalhau - a estrela da casa - mas já havia pedido tanta coisa e face aos tamanhos dos pratos, que acabei pedindo o Arroz de Pato. Mas também meia porção. E olha o tamanho disso! Fartura, teu nome é Gruta!
Devo confessar que estava divino, com arroz soltinho, úmido, bem temperado e as carnes da ave e da lingüiça perfeitas. E mais uma vez, a ½ porção, que serviria três pessoas, foi toda pra casa, para alegria do filho guloso (e minha que pude comer mais).
E finalmente chegou o grande momento: os doces portugueses! E a pedida - ovos moles, a tradicional sobremesa de ovos com amêndoas. Com canela decorando e no pote, pra polvilhar. Encerrei com “chave de ouro”!
Demorei pra conhecer esse lugar, mas depois de ficar por quase três horas e meia me deliciando com tantas coisas boas, me despedi encantada com a promessa de voltar brevemente. E ao sair, pude notar e admirar os belos quadros emoldurados com lindos lenços (cachenés) de Nazaré, remetendo a azulejos portugueses, assim como a pequena imagem de Santo Antônio no canto da parede. Tudo muito bonito e típico.
Voltei pra casa satisfeita, com a alma leve (o corpo nem tanto), e feliz por ter conhecido aquele que pra mim é o melhor restaurante desse tipo de culinária! Valeu a experiência gastronômica e o passeio.
O custo total dessa verdadeira orgia gastronômica foi de R$ 185,00 sem bebidas, mas levando em conta tudo que levei pra casa e que serviu a outra pessoa, poderia colocar o custo pela metade. Recomendo muito a Gruta de Santo Antônio e salve a alta gastronomia lusitana!
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A incrível gastronomia lusitana do Gruta de Santo Antônio
Destemperados
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