O cancelamento de Sense8 pela Netflix na semana passada causou um levante nas redes sociais. Os órfãos do drama das irmãs Wachowski promoveram até petição e eventos para suplicar à empresa que voltasse atrás. Em vão, ao que parece.
Cada vez que uma série é cancelada (ou finalizada), o chororô dos fãs é generalizado. Não digo que este é o caso de Sense8 (leia mais sobre isso no fim do texto), mas, a verdade, meus amigos, é que, na maioria dos casos, o fim vem para o bem. Às vezes, vem até tarde.
Breaking Bad, por exemplo. Você acha que o premiado seriado teria terminado tão bem se emissora e produtores tivessem preferido aproveitar a popularidade que acompanhou os últimos anos da produção e continuado por mais umas três temporadas? No caminho inverso, será que a também premiada Dexter teria terminado tão mal se não houvesse se rendido à audiência (e ao $$) e se arrastado por umas duas ou três temporadas a mais?
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"Breaking Bad", o bom exemplo
Em geral, séries que não são procedimentais (aquelas com casos diferentes por episódio, tipo Criminal Minds e CSI) ou sitcoms (como Friends ou Seinfeld) deveriam ter vida curta, ser pensadas como um todo (início, meio e fim) e seguir sem enrolação e prorrogação. Breaking Bad era a jornada de Walter White de professor de química com câncer terminal a grande traficante de drogas (e com um cunhado policial da agência de repressão a entorpecentes!).
Foram cinco temporadas em que o espectador dificilmente se sentiu enrolado. E o fim pareceu ter sido planejado desde o começo. Walter e cia. se despediram sob aplausos e prêmios.
"Dexter", o mau exemplo
Já Dexter foi inspirada em uma série literária com dois volumes. O que veio depois saiu da cabeça dos roteiristas e foi um tanto decepcionante (com exceção à quarta temporada, com o ótimo embate entre o Dexter de Michael C. Hall e o Trinity Killer de John Lithgow). O protagonista era um serial killer com uma irmã policial e que trabalha como perito dentro de uma delegacia.
Ser descoberto era uma questão de tempo, não? Essa era a grande tensão da série, que acabou ignorada com o alongamento da história. Terminou com oito temporadas e um dos finais mais odiados da TV.
Elas costumam se estender
Procedimentais e sitcoms, por não terem necessariamente uma narrativa que pede início-meio-fim, acabam durando mais, muitas vezes passando das 10 temporadas (Law & Order: SVU vai para a 19ª!). Mesmo assim, eventualmente, a fórmula (ou a criatividade) se esgota.
Muito tarde ou muito cedo?
Outras produções que teriam um final mais digno se houvessem acabado antes (e olha que eu gostava muito delas): Lost, The Following, How to Get Away with Murder, Desperate Housewives, Supernatural, True Blood, Two and a Half Men, How I Met Your Mother...
Claro, várias se despediram mais cedo do que deveriam, entre elas Jericho, Awake, The New Normal, Pushing Daisies, Dead Like Me e Hannibal (ok, todas as criações do genial Bryan Fuller entram nesta lista).
Os cancelamentos da vez
Finda a alta temporada da TV americana, como de costume, nem todas as séries se salvaram. Os cancelamentos mais comentados: 2 Broke Girls, The Get Down, Chicago Justice, Scream Queens, Criminal Minds: Beyond Borders, The Blacklist: Redemption, American Crime, The Catch, Secrets and Lies, Last Man Standing, Sleepy Hollow, The Knick, Please Like Me, entre outras.
E "Sense8"?
Ficou claro nesta segunda temporada que as Wachowski adoram encher linguiça. Tudo bem, a gente adora os encontros sensoriais dos sensates, mas tudo tem um limite. As irmãs abusaram desse tipo de cena e de outros que tais que não acrescentaram em nada.
Mesmo assim, é uma pena que Sense8 tenha sido cancelada tão cedo (merecia, pelo menos, um fim de verdade). Não só pela história – que é muito interessante e (especialmente) relevante em um mundo que está precisando de mais compaixão e empatia –, mas também pelo imenso espaço que deu às minorias. Percebi que muita gente lavava a alma em cada episódio, conseguindo se enxergar naqueles personagens.
Lembro que, em uma entrevista coletiva da qual participei com três astros da produção, um dos repórteres pegou o microfone não para perguntar, e sim para agradecer a Jamie Clayton, intérprete da transexual Nomi. Ele disse, emocionado, que a história da personagem lhe deu a coragem necessária para assumir o relacionamento com o namorado (contei melhor essa história, à época, aqui).
Jamie foi às lágrimas. Se foi fake, não deu para perceber. Só fiquei pensando como os fãs dessa série às vezes parecem uma grande família. Fará muita falta.