O pátio do Vila Flores, no 4º Distrito, na Capital, estava cheio na tarde deste sábado (13). O cenário, entretanto, era bem diferente daquele visto no final de maio, em que as pessoas ocupavam o local para contabilizar os prejuízos e passar o dia retirando o lodo que se acumulava em todos os cantos do centro cultural, que foi duramente afetado pela enchente.
O sábado, então, foi de festa, de comemoração e de retomada, após mutirões de limpeza e doações — seja financeiro, de donativos ou de dedicação. O dia marcou o retorno da programação cultural junto à comunidade. E a vontade de celebrar era tanto que o público não se intimidou com os 12°C marcados pelo termômetro. Afinal, tinha calor humano, arte e quentão para se esquentar.
A reabertura da programação cultural do Vila Flores se dá dois meses e meio depois da enchente tomar totalmente o primeiro andar do espaço, afetando nove apartamentos que abrigavam 15 empreendimentos. A limpeza se iniciou no final de maio, mas, até agora, de acordo com o cofundador do ecossistema cultural, João Felipe Wallig, ainda não foi possível que os vileiros, como são chamados os ocupantes do espaço, voltassem com as suas atividades nos apartamentos afetados.
— Demos ênfase para recuperar o espaço de característica pública, para o espaço de uso comum, que é o espaço cultural do Vila Flores. A gente queria poder trazer logo atividades e essa vivência de cultura, de arte e de lazer para as pessoas. Tudo isso para que a Vila Flores voltasse a cumprir o seu papel público e social o quanto antes. Essa recuperação emocional é muito importante — salienta Wallig.
Neste primeiro dia de retomada junto à comunidade, com entrada gratuita, o Vila Flores recebeu o Festival Multiartes. Na programação, houve contação de histórias da Trupe Fantabulástica, espetáculos teatrais do Fantomania – Teatro de Bonecos e do Projeto Abraço e performances circenses com Luiz Woleck e com Roberta Alfaya. Além disso, ainda houve feira de cerâmica e shows de Glau Barros, do Frescoboys e do Conjunto Pra Tocá.
Gestora institucional do Vila Flores, Carolina Rothfuchs Ribeiro coproduziu o evento e atuou na curadoria da programação artística e, para ela, era preciso entender qual seria a melhor forma de reabrir o ecossistema para o público:
— Escolhemos este evento por ele trazer essa questão das diversas artes, entendendo que era para ter acontecido antes da enchente. E, com a tragédia, a gente se mobilizou muito como um centro cultural em função dos artistas que ficaram sem trabalho. Então, a gente começou com este evento para prestigiar estes artistas e, também, porque acreditamos na potência da arte.
Portas abertas
O casal Márcio Gonçalves, 53 anos, desenhista industrial, e Luciana Rodrigues, 42, fotógrafa, estava abraçado no pátio do Vila Flores, fugindo do frio e curtindo o som da banda Frescoboys. Ele é habitué do centro cultural e, tamanho o seu carinho pelo local, já até tentou montar uma oficina de marcenaria por ali — mas, por enquanto, está na fila de espera.
— Gosto dessa vibe de coisas artesanais. No Vila, parece que tem uma coisa que inspira criação, dá para ver a arte se desenvolvendo aqui — conta Gonçalves, que mora em São Leopoldo. — Eu frequentava aqui, a água estava no peito por aqui. E, agora, depois desse episódio, é o momento da galera da arte começar a aparecer com mais força.
Luciana, que mora na Cidade Baixa, também nutre uma grande admiração pelo local:
— Eu acho o Vila maravilhoso, queria morar aqui. Mas acho que é mais fácil morar no Copan do que aqui, porque é muito disputado (risos). Eu adoro essas casinhas coloridas, esse ar de vila. É muito legal.
Angélica Pereira, 27, passou boa parte do ano passado no Vila Flores, aprendendo a fazer cerâmica nas oficinas oferecidas no centro cultural. Agora, ela retorna ao espaço vendendo a sua arte na feirinha que ocorre no galpão do local.
— É muito importante para pessoas que não são de classes mais altas terem acesso mais fácil e bonito à arte e à cultura. É uma válvula de escape e digo até que o Vila Flores é um lugar sagrado — conta Angélica, dona da lojinha Brutal Clay.
Neste domingo (14), a programação cultural continua no Vila Flores. Das 14h às 21h, haverá o evento Aldeia Medieval, que consiste em uma experiência imersiva com shows musicais, jogos medievais, arco e flecha e desfile de trajes temáticos, entre outras atrações.
Para este evento, haverá venda de ingressos. Os valores partem de R$ 40 (solidário) e R$80 (inteira segundo lote). Crianças de até 11 anos têm entrada gratuita. O Vila Flores fica na Rua São Carlos, 753, no bairro Floresta.