A morte do modelo Tales Cotta, 25 anos, que caiu na passarela durante desfile da São Paulo Fashion Week (SPFW), na tarde deste sábado (27), provocou protestos. Entre eles, ganharam destaque o desabafo do rapper Rico Dalasam, ao vivo, na passarela, e um texto do escritor Ricardo Domeneck, publicado no Facebook.
Tales trabalhava para a agência Base MGT. Ele tropeçou no cadarço do sapato e caiu enquanto desfilava pela grife Ocksa. Inicialmente, devido à forma como despencou e pela espuma em sua boca, a suspeita era de que ele havia sofrido um ataque epilético.
Nos primeiros segundos após o incidente, os convidados imaginaram se tratar de uma performance. Mas logo a música cessou e a brigada de emergência invadiu a passarela. Tales foi socorrido, mas não resistiu.
A morte abriu crise sem precedentes na SPFW. Notas foram divulgadas após o fato, reiterando solidariedade, luto e apoio à família. O evento, contudo, prosseguiu após a tragédia.
No desfile da marca Cavalera, o rapper Rico Dalasam subiu à passarela dizendo que foi convidado pela grife para falar, mas que o local deveria estar vazio.
— Não era para ninguém estar aqui. O cara acabou de morrer e vocês estão aqui como se a vida não valesse nada, nada, nada. Não era para ninguém estar aqui — desabafou o artista, que foi aplaudido e saudado com gritos de apoio.
Como o rapper, Domeneck – reconhecido poeta brasileiro radicado em Berlim, na Alemanha – também fez um desabafo, mas por escrito. Em sua conta no Facebook, o escritor declarou estar "zonzo entre as tragédias reais, coletivas e individuais".
Em seguida, fez referência à morte de Tales, que "despencou em si, de si, caiu em plena passarela da São Paulo Fashion Week", para então concluir: "Não era Ayrton Senna esbugalhando-se em TV aberta contra um muro, era um rapaz que alugava de forma legítima seu corpo para as roupas da nova moda, dizia-se 'manequim' antigamente, um manequim, nós manequins sobre os quais colocamos roupas, maquiagens, manequim: o rapaz despencou em si, caiu de si, morreu. Está morto. Seu nome era Tales Soares. A Morte não faz despencar bolsas. Nem a Bovespa dos quatrocentões nem a Prada das quatrocentonas".
Nas palavras de Domeneck, "o desfile seguiu. Não. Não apenas seguiu. Foi reiniciado para que a plateia pudesse ter a experiência do desfile tal qual fora planejado, sem aquela interferência inoportuna da morte. Estamos todos muito, muito doentes".
A organização da SPFW emitiu uma nota justificando as decisões tomadas na noite de sábado, após a morte do modelo. Segundo a nota divulgada no Facebook da SPFW, Tales foi levado ao hospital com vida. Não havia "indicação de que viria a falecer".
Prossegue o texto: "Com a informação de que ele estava sendo atendido, ficamos juntos com a agência Base acompanhando e dando toda a assistência necessária. Fomos informados oficialmente pelo hospital do falecimento às 18h50min - 1h30 depois que Tales precisou ser atendido. O atestado de óbito registra horário da morte às 18h40min. Neste horário, ainda faltavam três marcas a desfilar: Piet, Ponto Firme e Cavalera".
Ainda de acordo com a nota, houve uma reunião da organização da SPFW com as "marcas, diretores de desfiles, stylists e modelos próximos de Tales, que tinham desfiles na programação, e foi dada a opção de cancelar os mesmos".
"Mesmo abalados, decidiram manter os desfiles. Todos os envolvidos foram acompanhados de perto. Foi decidido também pelo minuto de silêncio na abertura de cada desfile, o retirar do som da vinheta de abertura nas salas de desfiles, a pausa na cobertura oficial do evento, o encerramento da música no evento e foi pedido que as marcas considerassem o ocorrido em suas celebrações no backstage", afirmou a organização por meio do texto.