Luciano Alabarse são dois. Um deles é o homem do teatro, criador do Porto Alegre Em Cena e com mais de 40 anos de serviços prestados ao meio artístico. O outro é o homem público, com metade deste tempo dedicado ao fomento da cultura atuando em órgãos públicos. No próximo ano, ele continua a ampliar o segundo currículo, quando deixa a Secretaria da Cultura de Canoas para assumir a mesma pasta em Porto Alegre.
Alabarse possui longa trajetória no teatro, com o qual trabalha desde os anos 1970. Depois de formado em Artes Cênicas na UFRGS, em 1974, aproximou-se do Teatro de Arena e fundou o Grêmio Dramático Açores, grupo de teatro amador responsável por peças como Os Dragões do 31º Dia, de Luiz Emediato, O Evangelho Segundo Zebedeu, de César Vieira, e A Lata de Lixo da História, de Roberto Schwarz.
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Nos anos 1980, começou a dirigir espetáculo musicais de artistas em ascensão, como Adriana Calcanhotto e Nelson Coelho de Castro. Nesta época, dramatizou Pode Ser que Seja Só o Leiteiro Lá Fora, que lhe rendeu o Troféu Açorianos de Melhor Diretor e a amizade do seu autor, Caio Fernando Abreu. A parceria renderia ainda a ida aos palcos de Morangos Mofados, baseado no livro de contos do escritor, e Reunião de Família, adaptação para o teatro feita por Caio do romance da escritora Lya Luft.
Nos anos 1990, começou a atuar também na esfera pública, à frente da Coordenação de Artes Cênicas da Capital. Em 1994, criou um dos mais bem-sucedidos projetos de teatro do Estado, o Porto Alegre Em Cena, que fomenta a cena local e coloca o Rio Grande do Sul na rota de grandes companhias de teatro do mundo. Também selou de vez sua relação com a política, uma vez que o projeto está ligado ao poder público municipal – e consequentemente, aos partidos políticos que o comandam.
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Mas lidar com diferentes siglas e orientações políticas nunca foi um problema para Alabarse. Mesmo agora, em que ele deixa uma prefeitura ligada ao PT para integrar um governo do PSDB.
– Meu partido é a cultura. E consigo trabalhar com qualquer um que compreenda isso – crava. – Quando me chamam para trabalhar, vejo se são pessoas afinadas com o meu comprometimento com a cultura e se terei liberdade para fazer o que for preciso. E essa liberdade eu sempre tive, independente de partido.
Alabarse conta que se aproximou de Nelson Marchezan durante o período eleitoral. Ressabiado por conta de boatos que diziam que o tucano botaria abaixo a cultura em Porto Alegre – incluindo seu querido Porto Alegre Em Cena –, o diretor de teatro marcou uma reunião com o então candidato. Pensou que seria um cafezinho. Foram três horas de conversa.
– Ele se mostrou muito aberto ao diálogo e sensível aos problemas da cultura na cidade – comenta Alabarse. – Saí muito impressionado e otimista com o que poderia ser feito.
Convite feito e aceito, o futuro secretário de Cultura Luciano Alabarse fala muito em buscar recursos fora do historicamente minúsculo orçamento de sua pasta. Especialmente no que toca a reabertura e manutenção de espaços públicos.
– Tenho um carinho enorme por determinados prédios que estão fechados, como o Teatro de Câmara. Ele está há quatro anos fechado e eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para reabri-lo – pontua Alabarse. – Agora, se eu for depender exclusivamente das verbas orçamentárias para isso, quanto tempo vai demorar? Então vou atrás desse dinheiro. Não tenho preconceito em buscar parcerias com a iniciativa privada.
A mesma lógica de procurar financiamento fora dos cofres públicos deverá ser aplicada para atividades que tenham potencial de captação próprias – como o próprio Porto Alegre Em Cena, que, segundo Alabarse, é composto 90% por meio de recursos privados via leis de incentivo. Projetos formativos ou que não tenham força de captação, estes sim, de acordo com o secretário, deverão ter prioridade nas fatias do bolo orçamentário.
Investir em descentralização também é uma de suas metas enquanto secretário da Cultura da Capital:
– Não estou dizendo que menosprezo a cultura de mercado, só estou dizendo que a prioridade do serviço público é atender as populações mais carentes, para quem elas tenham acesso a bens culturais e possam dialogar com os agentes culturais. E, para isso, precisamos de uma comunidade cultural fortalecida.
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Gustavo Brigatti
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