O primeiro voo solo de Juliana Rojas na direção de longa-metragem é morbidamente inusitado: Sinfonia da Necrópole (2014) é uma comédia musical ambientada em um cemitério. Melhor longa brasileiro segundo o júri da crítica do 42º Festival de Gramado, a produção em cartaz no CineBancários é uma instigante experiência com o cinema de gênero. Trata-se de uma das características do Filmes do Caixote, coletivo paulista de realizadores responsável por títulos premiados como O que se Move (2013), de Caetano Gotardo, Quando Eu Era Vivo (2014), de Marco Dutra, e Trabalhar Cansa (2011), mistura de drama social e terror codirigido por Juliana e Dutra e exibido na mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes.
Sinfonia da Necrópole se passa em São Paulo, onde a rotina de Deodato (Eduardo Gomes), aprendiz de coveiro que tem medo de gente morta, muda quando uma nova funcionária chega ao cemitério. O rapaz passa a ajudar a bela e pragmática Jaqueline (Luciana Paes) a recadastrar os túmulos antigos e abandonados para uma reestruturação da cidade dos mortos com a construção de “condomínios” verticais. Uma sucessão de estranhos eventos, porém, leva Deodato a questionar as implicações terrenas e sobrenaturais que uma mudança na necrópole pode causar.
Alegoria da especulação imobiliária paulistana e do embrutecimento da vida nas metrópoles, Sinfonia da Necrópole ainda acrescenta à crítica social o interesse romântico de Deodato e Jaqueline. Os números musicais com dança reforçam o distanciamento brechtiano buscado pela diretora e roteirista Juliana Rojas, graças a cenas como a do coro de defuntos cantando "A terra comerá nossos tecidos / Rostos e nomes serão esquecidos / Só restarão nossos jazigos". Pena que a trama vá aos poucos afrouxando-se dramaticamente e não consiga estender até o final do filme a surpresa e a graça esquisita da primeira parte de Sinfonia da Necrópole.
SINFONIA DA NECRÓPOLE
De Juliana Rojas
Musical, Brasil, 94min, 12 anos.Em cartaz no CineBancários, às 17h e 19h.
Cotação:4