Se você nunca ouviu falar dela, anote este nome: Liniker.
Se ouviu, provavelmente já sabe que se trata de uma das cantoras mais aclamadas da atualidade, idolatrada por uma nova geração de fãs fascinados por sua voz, por sua música e, também, pela coragem de ser quem é.
Liniker de Barros Ferreira Campos é uma mulher negra trans, a primeira a vencer o Grammy Latino e a ocupar uma cadeira da Academia Brasileira de Cultura.
Ela está em Porto Alegre.
Na noite desta terça-feira (21), a cantora apresentou seu show Caju (do álbum homônimo, com mais de 100 milhões de reproduções nas plataformas digitais) no Auditório Araújo Vianna lotado de gente de todas as cores e tribos. Nesta quarta-feira (22), haverá sessão extra, também esgotada. Vendidos em novembro, os ingressos acabaram em três horas.
Eu estive na estreia (foi a primeira vez que a vi) e entendi por quê.
Antes de qualquer coisa, é sobre música. Liniker tem uma voz única, cortante e aveludada ao mesmo tempo, potente, acima de tudo. É capaz de misturar soul, black music, reggae, pagode, disco, samba-rock, brega e o que mais você puder imaginar em canções autorais envolventes, com letras contemporâneas e arranjos de qualidade.
Senhora de si (após anos de terapia), ela é um furacão no palco, acompanhada de músicos competentes e de backing vocals (que a artista chama de "black dolphins" ou golfinhos negros) de fazer inveja a qualquer big band. É impossível, para quem vê ao vivo, não sentir os pelos do braço arrepiarem e não dançar junto.
O público ficou as duas horas de show em pé (apesar dos assentos), dançando, cantando, batendo palmas e reagindo aos comandos da diva.
Mas não é só sobre música. Liniker também representa um Brasil diverso, de gente que vive uma batalha diária para sobreviver em um país que ainda é, em grande parte, homofóbico e intolerante. Um país que mata mulheres e, principalmente, mulheres negras e, mais ainda, mulheres negras trans.
Liniker vive, brilha e leva com ela a mensagem da diversidade, da tolerância (há inclusive tradutores de libras, a língua brasileira de sinais, na sua equipe) e de que é possível superar preconceitos. Somos um só, afinal, ainda que muita gente pense diferente, em um mundo de Trumps, Musks e outros "quetais".
Você não gosta dela? Tudo bem, mas já aviso: é bem possível que sua filha (ou seu filho) goste.