Pois mais uma vez a Netflix vai lá e lança uma série própria, Unbreakable Kimmy Schmidt, criada e produzida para a rede mundial de computadores, com as aventuras e desventuras de uma garota que passou 15 anos enterrada num abrigo pós-apocalipse por conta de uma seita fimdomundista. Kimmy, a garota, entrou com 15 e saiu com 30, e agora, adulta e desinformada de tudo que ocorreu no mundo desde os anos 1990, tem que se virar na sede mundial do ultracontemporâneo, aka Nova York.
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Um dos bons filmes que todos deveriam ver se chama O Navegador. Ele é neozelandês e mostra um grupo de seres medievais, no meio da Peste Negra, que entram em uma mina e saem no século 20 e, pasmem, nem percebem. O mundo medieval era um universo no qual magia e realidade se confundiam, e, para os navegadores do filme, tudo que veem tem explicação: trens são dragões, luzes são olhos das fadas, e tecnologia não passa de efeitos especiais produzidos por algum bruxo poderoso. Simples.
Kimmy é mais ou menos como eles. Ela chega a 2015 com a maior tranquilidade, embora não faça ideia de como usar um smartphone. Assim que aprende, começa a enviar selfies pornô ("Como todo mundo faz"). Kimmy é uma navegadora na onda da modernidade pós-industrial, recém-chegada de um universo tão medieval quanto o do filme.
A série foi cocriada pela brilhante Tina Fey, do Saturday Night Live. O seu humor é um tanto americano demais, e a gente simplesmente estranha o registro, as caretas, o timing. Parte do tempo a gente acha esquisito, em outra parte a gente curte muito o que acontece com Kimmy e sua trupe. Exemplo? Um dos novos amigos de Kimmy é negro e arruma emprego de lobisomem em um restaurante temático. Pois ele descobre que os americanos brancos são mais gentis com ele na forma de lobisomem do que na sua condição normal de afro-americano. Risos, risos, e crítica social feroz.
Coluna
Marcelo Carneiro da Cunha: Unbreakable Kimmy Schmidt
O colunista escreve semanalmente no 2º Caderno
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