
As relações entre o Canadá e os Estados Unidos ficaram tensas novamente na terça-feira (11), quando o presidente dos Estados Unidos Donald Trump ameaçou dobrar as tarifas planejadas sobre a indústria siderúrgica do país vizinho, mas voltou atrás horas depois.
O republicano havia anunciado na rede social Truth Social que dobraria as tarifas que entram em vigor nesta quarta-feira sobre o aço e o alumínio canadenses, aumentando-as de 25% para 50%. Esta foi a reação à decisão da província canadense de Ontário de impor uma sobretaxa sobre as exportações de eletricidade para três Estados dos EUA.
Durante a tarde, após um telefonema entre o primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, e o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, Trump mudou de ideia.
— Há alguém muito forte no Canadá que anunciou que imporia uma sobretaxa de eletricidade (...) Isso teria sido uma coisa muito ruim, e eles não vão fazer isso. Eu respeito isso — disse Donald Trump na Casa Branca.
Ele acrescentou que provavelmente reconsideraria dobrar as tarifas. Na terça-feira, a província canadense de Ontário anunciou que suspenderia a sobretaxa de eletricidade.
De acordo com Ford, o recuo aconteceu após um "diálogo produtivo" com o secretário Lutnick, que aceitou "reunir-se oficialmente" com o canadense em Washington em 13 de março. O encontro também teria a presença do representante americano de Comércio Exterior, Jamieson Greer, antes do prazo para que entrem em vigor as tarifas recíprocas entre os dois países, em 2 de abril, indicou Ford.
Tarifas em vigor
As novas ameaças de Trump surgiram horas antes do prazo final da meia-noite que ele estabeleceu para impor novos impostos. Essas tarifas alfandegárias, para as quais não estão previstas exceções, afetarão os setores eletrônico, automotivo e de construção.
O país mais afetado é o Canadá, um aliado histórico, junto com o México, seu parceiro no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC). O Canadá fornece metade das importações de alumínio dos EUA e 20% de suas importações de aço, diz a consultoria EY-Parthenon.
O futuro primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, prometeu na terça-feira que a resposta de seu país quando ele assumir o cargo terá "impacto máximo nos Estados Unidos e impacto mínimo no Canadá". No domingo (9), ele adotou um tom desafiador, afirmando que o país "nunca fará parte dos Estados Unidos".
— Que os americanos não sejam enganados. No comércio, assim como no hóquei, o Canadá vencerá — disse.
Trump alertou no Truth Social que se o que ele chama de "tarifas canadenses flagrantes" não forem eliminadas, ele imporá tarifas sobre carros importados a partir de 2 de abril, o que pode encerrar permanentemente "o negócio de fabricação de automóveis no Canadá". Na mesma mensagem, o republicano estimou que "a única coisa sensata" para o Canadá é se tornar o "51º Estado" dos Estados Unidos.
— Isso faria com que todas as tarifas e tudo mais desaparecessem completamente — afirmou o americano.
— Os impostos canadenses serão substancialmente reduzidos, eles serão mais seguros do que nunca, militarmente e de outras formas, e não haverá mais problemas em nossa fronteira norte — disse Trump, que acusa o vizinho de não fazer o suficiente para conter a entrada ilegal de fentanil, um opioide sintético que desencadeou uma crise de saúde nos Estados Unidos.
Diante das tarifas de Trump, alguns lamentam e outros parabenizam. Drew Greenblatt, proprietário da fabricante de produtos metálicos Marlin Steel, sediada em Baltimore, está satisfeito com as novas tarifas sobre aço importado porque elas aumentaram os seus pedidos.
— Usamos apenas aço americano, por isso estamos satisfeitos com as tarifas — disse.
Algumas vozes alertam sobre as consequências. Produtores que usam aço estrangeiro dizem que custos mais altos de importação serão sentidos na maior economia do mundo.
Uma grande siderúrgica dos EUA alertou que os preços do aço no país aumentarão para acompanhar os altos custos dos produtos importados. Restrições de oferta estão elevando os preços, tornando itens como pregos, por exemplo, mais caros, explicou o fabricante, que pediu para permanecer anônimo. Muitos economistas temem que as medidas tarifárias de Trump tenham um efeito inflacionário.