
Reconhecido pela tradição e relação histórica com a humanidade, o vinho encontra na inovação as oportunidades para se manter conectado com o consumidor. Das boas práticas nas videiras à excelência na industrialização, a tecnologia se mostra fundamental para entregar um produto cada vez mais alinhado à expectativa de seus apreciadores. É esse o tema do oitavo episódio do podcast “Vai de Vinho Brasileiro”, já disponível.
Para compreender as oportunidades que a inovação traz à vitivinicultura o apresentador Daniel Perches recebe o presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Ricardo Morari, o CEO da Nova Aliança Vinícola Cooperativa, Heleno Facchin, e o assessor de negócios do Sicredi Serrana, Carlos Berres. Juntos, eles falam sobre tecnologia, qualidade de produção e possibilidades de acesso a investimento.
– Muitas vezes, a gente fala que as safras têm sido favoráveis a elaborar grandes vinhos, mas esquecemos que, além das condições climáticas, também temos muitas ferramentas tecnológicas, que foram trazidas nos últimos anos e têm, de alguma forma, facilitado o nosso trabalho – introduz Morari.
Segundo ele, esse fator tem sido fundamental para extrair o melhor das uvas, já que a preparação adequada, do vinhedo às vinícolas, se traduz na qualidade dos produtos. Mais do que isso: garante consistência, sem oscilações de uma safra para outra, mesmo quando o clima não se comporta muito bem.
Facchin ressalta que a evolução dentro da vinícola é alicerçada pelo mesmo movimento na propriedade do viticultor, não ficando restrito à tecnologia, mas também à facilidade de manejo. Caracterizada pelo uso intensivo de mão de obra, a atividade acaba tendo maior valor agregado e limitações de avanço.
– A mecanização é uma prática muito importante. Atividades muito simples, como uma poda, onde havia mecanismos rudimentares, tesouras que não tinham inclusive segurança, evoluíram para equipamentos automatizados, com ergonomia, segurança, conforto e que facilitam a operação – exemplifica.
Morari completa que o aparato tecnológico é visível em todos os processos nas vinícolas. Do recebimento das uvas até as filtrações finais, passando por prensagem e outras etapas, equipamentos modernos são utilizados para permitir uma operação precisa e sustentável – ambiental e economicamente.
O presidente da ABE chama atenção para um aspecto pouco falado, mas fundamental na evolução da elaboração de vinhos: a biotecnologia. Cada vez mais presente no dia a dia, a biotecnologia ajuda a extrair o máximo das uvas, reduzindo o uso de sulfitos graças à utilização de benefícios que são naturais da própria levedura.
– A biotecnologia tem crescido muito e se tornado acessível a nós, enólogos, ajudando a elaborar grandes vinhos. Em equipamentos, temos uma infinidade de processos que utilizam mão de obra qualificada para extrair o máximo do potencial que vem do campo – resume.
Tradição
Segundo os convidados, a essência da cultura do vinho não pode ser perdida – e não será, já que a tradição e a paixão estão intrinsecamente envolvidas. A paixão das famílias que trabalham nessa cadeia, segundo Facchin, é o alicerce que mantém o setor, em todo o mundo. Se em outros continentes isso é uma realidade milenar, por aqui tem pouco mais de um século. Para Morari, isso tem mais vantagens do que desvantagens.
– A velocidade da evolução brasileira é visível até por colegas nossos de países mais tradicionais, que têm uma dificuldade um pouco maior em trazer e aplicar novas tecnologias. Essa é uma vantagem de ainda sermos um país jovem na vitivinicultura. Dizem que fazer vinho é fácil, o difícil são os primeiros 200 anos. Estamos um pouco mais da metade desse caminho – avalia Morari.
Se por um lado pode parecer ruim esse pouco tempo, por outro, a liberdade de aplicar tudo o que tem de novidade e ver o resultado no vinho pronto é um diferencial competitivo. A abertura que a cadeia vitivinícola brasileira dá a tecnologias que são novas no mundo todo tem contribuído para uma evolução rápida na qualidade do vinho nacional.
Investimento
Acompanhar as tendências do setor produtivo demanda informação de qualidade, com fontes como as que o “Vai de Vinho Brasileiro” recebe. Além disso, exige capacidade financeira para atualizar equipamentos e máquinas. Por isso o podcast recebe o Sicredi Serrana, que atende 23 municípios diretamente ligados à vitivinicultura – são mais de 11 mil propriedades atendidas, que respondem por 61% da área cultivada de uva no Brasil e 78% do vinho produzido no Estado.
– Existe solução de crédito para todas as finalidades, com especificidades de crédito rural para o produtor de uva, a vinícola, a cooperativa ou qualquer empresa ligada ao setor. O mais tradicional, hoje, é o de custeio, em que o produtor tem muito acesso à tecnologia e insumos novos – explica Berres.
O assessor de negócios completa que as soluções estão disponíveis para propriedades e empresas de pequeno, médio e grande porte. Além disso, a linha de financiamento para investimentos também tem um papel importante no fomento ao mercado. É o caso de máquinas colhedoras de uva, que representam um aporte considerável, mas refletem em uma grande diferença no dia a dia da propriedade.
– Temos linhas subsidiadas por governos, mas também recursos próprios. Às vezes, o governo não consegue atender no caso de um equipamento importado, por não ter um código nacional de fabricação – exemplifica.
O podcast “Vai de Vinho Brasileiro” é produzido pelo Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul, em parceria com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi), com o apoio da Sicredi e do Sebrae. O conteúdo está disponível no YouTube do Consevitis-RS.