Em O Menino e o Casarão, um dos textos que compõem o livro O Menino da Terra do Sol, é relatada a destruição do casarão que viu nascer a família do personagem-título, enquanto o próprio garoto pensa sobre a história que o prédio encerrava. "Na máquina de costura com pedal manual, a bisavó do menino, Tereza, ainda costura a camisa com que o filho Pedro se exibe aos olhos de Pierina, na festa em honra a São Paulo", diz o texto, para logo a seguir relatar que o menino arranca uma pequena lasca que sobrou e a aperta na mão.
Leitores contumazes de Flávio Luis Ferrarini, autor da obra, podem ter uma sensação de déja vu, e não sem motivo - afinal, O Menino da Terra do Sol (editora Maneco, R$ 25) é uma espécie de autobiografia poética. Algumas histórias já haviam sido abordadas de outra forma antes, como a cena descrita acima e que aparece na crônica Olhando, Não o Reconheci, sobre a demolição do antigo casarão no qual nasceu. No relato, a camisa costurada não era do avô mas do próprio menino-autor, Flávio, que queria impressionar Lurdinha.
Sinal de que tudo o que está nas 132 páginas do livro é real? Ferrarini admite que sua obra, à exceção dos livros de poesia, tem um pouco de autobiografia, mas desconversa:
- São memórias um pouco inventadas.
Total ou parcialmente reais, os cerca de 90 curtos capítulos que compõem o livro causam identificação do leitor com o personagem, divertem e, muitas vezes, emocionam.
O texto primoroso de Ferrarini é complementado por belas ilustrações de Antonio Giacomin.
Literatura
Flávio Ferrarini traça autobiografia poética em novo livro
"O Menino da Terra do Sol" mostra trajetória de um menino do interior, como o próprio autor
GZH faz parte do The Trust Project