
Aos 71 anos, Paul McCartney avisa que o momento é novo. New, primeiro disco de inéditas em seis anos, celebra seu reencontro com o lado bom da vida conjugal e a vontade de mostrar isso para todo mundo como melhor sabe: compondo, tocando e cantando.
Com lançamento mundial nesta semana, o 16º álbum de estúdio de Macca chega na sequência do desenrolar de seu novo capítulo amoroso. O último trabalho de inéditas, Memory Almost Full (2007), foi lançado pouco depois do amargo divórcio com Heather Mills; enquanto Kisses on the Bottom (2012) já comemorava, com as músicas que Paul ouvia na infância, o namoro com Nancy Shevell que acabara em casamento no ano anterior. Muito já se falou sobre o papel desagregador que Yoko Ono exerceu sobre os Beatles, mas a verdade é que a carreira de Paul, tanto quanto a de John Lennon, sempre foi fortemente influenciada pela vida a dois. Foi assim nas três décadas que passou ao lado de Linda Eastman, morta em 1998, e mesmo depois com as confusões amorosas em que se envolveria.
É claro que, no caso de Paul, sentir-se novo não envolve exatamente uma reinvenção. Afinal, desde os anos 1960, ele já experimentou quase tudo em sua cruzada como um dos inventores da música pop como a conhecemos. O que quer que venha a fazer será fatalmente comparado à obra antecessora e dificilmente estará fora da identidade musical que ajudou a definir durante e depois dos Beatles.
Em New, encontramos tudo o que se espera de Paul: rocks, baladas, jogos vocais, belas melodias e arranjos que remetem à sua antiga banda, aos discos com o grupo Wings ou aos trabalhos solo. Com tanta autorreferência, há uma inegável mistura de nostalgia com alegria ao longo das 12 faixas. New soa novo ao trazer McCartney aliado a um time de produtores contemporâneos e de sucesso que bem poderiam ser seus filhos. Há Ethan Johns (produtor de Laura Marling, Kings of Leon e filho de Glyn Johns, engenheiro que trabalhou em discos dos Beatles e dos Wings), Giles Martin (filho do quinto Beatle George Martin), Mark Ronson (Amy Winehouse) e Paul Epworth (Adele).
É este quem produz Save us, rock rápido que abre o disco e já se candidata a ter o mesmo papel nos shows da turnê. Alligator (Ronson) lembra que é dos Beatles e dos anos 1960 que o britpop tira suas referências. Cantando como se tivesse vencido um de seus medos, Paul parece falar sobre casamento: "Eu quero alguém para ir para casa / Preciso de um lugar onde eu possa dormir".
Queenie Eye (Epworth) reabilita a escola que faz do piano um instrumento tão rock quanto a guitarra. Lembra I Am the Walrus, dos Beatles, enquanto a letra parece falar da ex-mulher de Paul e da disputa financeira do divórcio: "Eu não tenho isso / Não é no meu bolso!". É ao piano também que ele puxa New (Ronson), música-título do álbum que traz lembranças incidentais de outra dos Beatles, desta vez Penny Lane. Novamente, a vida é colocada a dois: "Podemos fazer o que quisermos / Podemos viver como escolhermos / Você vê, não há nenhuma garantia / Não temos nada a perder". Em Early Days (Johns), que pode soar um folk indie para alguns, Paul relembra Lennon e os tempos de garoto em Liverpool: "Vestido de preto da cabeça aos pés / Duas guitarras sobre nossas costas / Gostaríamos de andar pelas ruas da cidade / Procurando alguém que iria ouvir a música / Que escrevemos em casa".
Mas há a porção do disco em que Paul não parece ser tão Paul. Appreciate (Martin), com sua pegada soturna, é quase um trip hop com rock industrial. Everybody Out There (também de Martin) leva a imaginar como seria se David Bowie dividisse os vocais, tamanha é a semelhança com o jeito de compor e cantar do camaleão. A mesma sensação vem com I Can Be (novamente Martin).
No saldo, New é um disco que agradará aos fãs de Paul, mas sem tirá-los da zona de conforto - lugar de onde, talvez, nem queiram sair.
New
> Paul McCartney
> Universal, 12 faixas, R$ 33,90 (em média)
> Cotação: 4 de 5