Paranaense, autor entre outros de Um Amor Anarquista e A Máquina de Madeira, Miguel Sanches Neto veio cumprir na Jornada Nacional de Literatura o que considera uma função inevitável do ofício de escritor hoje: o de divulgar a si próprio.
- Eu tenho uma expressão para isso: eu digo que me tornei um "mascate de mim mesmo". A Jornada é o quarto evento a que estou indo só este mês, e isso é necessário, porque o escritor hoje é o principal divulgador de seu trabalho - disse, ao desembarcar nesta quinta-feira no aeroporto Lauro Kourtz.
Sanches veio para falar, como parte da programação da Jornadinha, a alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. O autor já esteve em Passo Fundo em maio do ano passado, nas sessões de leitura de seu livro Amor de Menino. De acordo com ele, essa ação continuada que traz um autor não apenas para um evento, mas para um trabalho de leitura, é um dos diferenciais mais interessantes e atraentes da jornada.
- A jornada acontece principalmente antes e depois, evidenciando um compromisso com a formação do leitor e com as escolas.
Formar leitores em uma época em que há tanta coisa chamando a atenção e a imaginação da criança e do jovem é complicado, o autor reconhece. Ainda se deve descobrir como fazer isso, mas, para ele, é possível.
- Esse é um tema desafiador porque cada vez mais existem opções de lazer para as crianças e para os jovens, e a literatura acaba se tornando, digamos, mais secundária nesse processo. O desafio é fazer com que a literatura seja uma dessas opções de lazer, de lazer inteligente, e que ao mesmo tempo esteja focado na formação do individuo. E a literatura tem essa capacidade de massa, basta a gente conseguir apresentá-la - disse, relacionando esse desafio ao papel de divulgador exigido hoje de um escritor.
A rotina de mascate do próprio trabalho, contudo, não é das mais proveitosas para alguém cujo trabalho requer concentração e, para muitos escritores, hábitos:
- É necessário, mas atrapalha, não vou dizer o contrário. Principalmente para quem escreve romance. Para quem escreve conto ou poesia talvez seja mais fácil. No romance é preciso um período de imersão mais longo.
Um mascate de si mesmo
Miguel Sanches, o ofício do escritor e a formação de leitores
Autor, que já esteve na cidade lançando seu livro "Amor de Meninio", veio participar da Jornadinha
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