Em espetáculo musical, Ignácio de Loyola Brandão conta suas memórias

Quantas lembranças uma música é capaz de despertar? Para Ignácio de Loyola Brandão, algumas canções foram tão especiais que foi possível montar um espetáculo onde elas caminham ao lado das memórias.

Como numa breve biografia musical, o escritor selecionou as canções mais marcantes de sua vida e expôs as memórias que elas despertam para o público participante da 15ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. Depois que cada música era interpretada pela voz doce de Rita Gullo, acompanhada de dois músicos, Loyola revelava ao público o porquê elas são importantes.

A maioria das músicas tinha relação com o início da carreira de Loyola como jornalista, como Amado Mio, que tocou no dia em que ele conseguiu o primeiro emprego em um jornal. E que também figurou os desejos adolescentes do escritor em Araraquara, onde nasceu. Ele contou que foi proibido de ver o filme Gilda, que tinha a música como trilha sonora, por causa de uma cena de striptease da protagonista Rita Hayworth. Ficava do lado de fora do cinema, apenas imaginando a cena e ouvindo a canção. Aos 30 anos, quando finalmente teve oportunidade de assistir ao longa, descobriu que ela só tirou uma luva:

- Mas nunca ninguém tirou uma luva com tanta sensualidade - acrescentou, para divertimento da plateia.

Em seu trabalho como jornalista, Loyola teve de fazer uma reportagem em uma casa histórica, que passaria por uma reforma. E durante a matéria encontrou a personagem de um conto que sonha em terminar. Na residência, onde escutou a música portuguesa Canção do Mar, conversou com uma mulher que reclamava que a mãe só queria comer cores. Ela tinha de procurar, diariamente, comidas de uma cor específica para que a mãe pudesse se alimentar. Depois de algum tempo, a mulher se recusou a repetir cores, para o desespero da filha.

- Não sei como a história terminou, pois quando procurei a filha novamente ela não morava mais lá. Mas ficou o desejo de escrever um conto sobre a mulher que come cores. Cheguei a começar, mas nunca finalizei. É algo que ainda quero fazer.

Outra canção que integrou o espetáculo foi Estrela do Mar. Segundo Loyola, no início da carreira, ele era como o grão de areia da música, apenas um "pobre sonhador". Ele explicou que nunca imaginou chegar onde está com a literatura.