
Viver meses em uma ilha do Mediterrâneo, acompanhar uma expedição atrás de uma cidade perdida no Peru, submeter-se a temporadas em comunidades indígenas do Estado, instalar prateleiras de livros em paradas de ônibus de Porto Alegre.
Investigando a natureza ou intervindo na cidade, Danilo Christidis fotografa situações que experimenta e jornadas que vivencia.
O porto-alegrense de 29 anos é o segundo artista da série que apresenta os 10 gaúchos convidados da 9ª Bienal do Mercosul. Danilo participa do projeto Island Sessions, ação iniciada antes da mostra, a ser aberta em 13 de setembro.
Um dos diretores da Fluxo: Escola de Fotografia Expandida, Danilo é autor de uma obra já reconhecida que aproxima experiências pessoais e produção artística, como mostram as fotos que reúne em seu site. Sua primeira série foi realizada no Peru, em 2005, acompanhando manifestações de trabalhadores indígenas ao longo de 40 dias. A exposição estreou na Casa de Cultura Mario Quintana e depois foi levada à Alemanha.
- Norteio meu processo criativo pela relação entre cidade e natureza. Tenho fascínio por viagens, aventura, e meu trabalho é ligado a inquietações e ao interesse no ser humano e em seus territórios. No Peru me interessou a cosmovisão andina - conta.
Em 2007, Danilo passou nove meses em Isla de Formentera, registrando o cotidiano da ilha do Mediterrâneo que foi habitada por fenícios, inspirou Julio Verne a escrever Viagem ao Centro da Terra (1959) e hospedou o Pink Floyd nos anos 1960:
- Vivi por meses em uma rede. Foi uma experiência profunda e utópica.
Ao manter uma produção fotográfica focada na paisagem e no retrato, entre o documental e o ficcional, Danilo passou a realizar ações artísticas. Em 2008, apresentou, no Centro Cultural Erico Verissimo, ensaio de fotos do projeto Mínimas Fronteiras, intervenção urbana na qual esculturas minimalistas eram instaladas em diferentes espaços de Porto Alegre.
Com os livros levados a paradas de ônibus pelo projeto Estante Pública, Danilo ganhou o Prêmio Funarte de Estímulo à Criação Artística em Artes Visuais 2010. No mesmo ano, recebeu a Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet pelo projeto Exorcismos Urbanos, uma série de registros de performances de pessoas com máscaras em locais de abandono.
O interesse pela cultura indígena amarra Danilo à ponta do projeto curatorial da 9ª Bienal que busca artistas investigadores, interessados nas relações entre natureza e cultura. O fotógrafo realiza, juntamente com Vherá Poty Benites da Silva, temporadas em aldeias gaúchas de Guarani-Mbyá. A parceria resultará em um livro, financiado pela Lei Rouanet, com lançamento previsto para este ano.
- Conhecê-los é uma experiência cognitiva, eles têm outra cosmovisão. É preciso se desarmar de lógicas e conceitos e ter imaginação e afeto para lidar com coisas que beiram o fantástico - conta Danilo.
Além do trabalho de antropologia visual indígena, o fotógrafo desenvolve um novo projeto, que se aproxima de outro eixo da Bienal, o de especular o futuro e o imprevisível. Em um registro mais ficcional, Danilo confronta imagens de cidades e territórios não urbanos, sobrepondo duas fotos em um mesmo fotograma:
- São imagens que vislumbram futuros catastróficos em que a natureza aniquila a cidade ou vice-versa.
A série:
> 9 de julho - Fernando Duval (1937, Pelotas)
> 16 de julho - Danilo Christidis (1983, Porto Alegre)
Até setembro:
> Fernanda Gassen (1982, São João do Polêsine)
> Katia Prates (1964, Porto Alegre)
> Leonardo Remor (1987, Ipiranga do Sul)
> Leticia Ramos (1976, Santo Antonio da Patrulha)
> Luiz Roque (1979, Cachoeira do Sul)
> Michel Zózimo (1977, Santa Maria)
> Romy Pocztaruk (1983, Porto Alegre)
> Tiago Rivaldo (1976, Porto Alegre)