Assim como nos pressionam para abraçar certas tendências alimentares ("Coma porco assado! Adore cupcakes agora! Odeie cupcakes agora!"), os conhecedores da culinária também ditam o que devemos beber.
Primeiro, vários anos atrás, havia o St.-Germain, o delicado licor de flor de sabugueiro. No início, ele firmou um relacionamento de longo prazo com o prosecco: se você quisesse ter um caso com o refresco espumante italiano, estaria também preso ao seu acompanhante francês. A seguir veio o Domaine de Canton, e todas as bebidas para relaxar começaram a ter um certo gosto de biscoito de gengibre. Quem está à espreita hoje é o Cynar; prepare-se para explicar aos convidados que receber para jantar porque você está preparando um Martini com gosto de alcachofra para eles.
Por enquanto, porém, vivemos no mundo do Aperol, um aperitivo italiano ligeiramente amargo que desce fácil e encontrou um lugar nas flautas de champanhe e copos largos de Los Angeles a Londres.
A popularidade da bebida centenária é impulsionada pelo gigante do marketing que produz muitos licores atualmente, entre eles o versátil Aperol. E há também sua tonalidade incomum: no gelo, lembra um pôr-do-sol avermelhado sobre o oceano.
"As pessoas olham para alguém no bar bebendo o Aperol e dizem: 'Uau, o que é isso?'", contou Kara Lavoie, gerente de vendas de licores da Palm Bay International na Califórnia e em Nevada, que importa o produto para os Estados Unidos.
A empresa se esforçou bastante para promover a marca, dando festas em festivais de alimentos, servindo a bebida para bartenders influentes e colocando anúncios em pontos de ônibus. As vendas de Aperol nos EUA aumentaram 1.250% nos últimos cinco anos, de acordo com o importador.
"Nos últimos 30 dias, vendi 184 garrafas", disse Steven Bowles, assistente de compras de licores da Astor Wines and Spirits, de Nova York.
A Paul's Wines and Spirits, de Washington, D.C., tem encontrado dificuldades para manter uma quantidade suficiente da bebida em estoque neste verão.
"A popularidade do Aperol, por algum motivo, aumentou nos últimos meses", disse Rick Bellman, um dos donos. "As pessoas começaram a encomendá-lo".
O Aperol, que surgiu em 1919, em Pádua, na Itália, tem gosto de casca de laranja e especiarias com um toque de ruibarbo. Possui a metade do teor alcóolico do seu irmão mais próximo, o Campari, e é um pouco menos amargo também - até ligeiramente doce - com alguns indícios das 30 ervas e especiarias diferentes que anuncia ter. (Ambos são produzidos pelo Gruppo Campari, um conglomerado que também produz o Cynar e vários outros licores.)
A distribuição se tornou mais difundida nos Estados Unidos cerca de cinco anos atrás, quando a Palm Bay começou uma investida agressiva, promovendo o Spritz (com três partes de prosecco, duas partes de Aperol e um pouco de água tônica, tudo coberto por uma fatia de laranja), que já havia sido popularizado na Itália.
"Qualquer restaurante italiano que se preze sabe que o Spritz é o que eles estão bebendo por lá", disse Jim Meehan, sócio-gerente do bar PDT, no East Village.
Os bartenders já foram bem mais longe do que isso. No Standard Nova York, eles costumam preparar Negroni com Aperol em vez de Campari. No Peels, no centro da cidade, a mixóloga Yana Volfson prepara um coquetel com o aperitivo, suco de toranja e St.-Germain, inspirando-se no sabor vibrante de tangerina do Aperol, que combina bem com outras notas cítricas.
Em Los Angeles, no Terroni, é servido o Il Sorpasso, que inclui Aperol, o bourbon Maker's Mark, mel e xarope de suco de limão. (Experimentei preparar uma versão caseira barata da receita, misturando Aperol com limonada San Pellegrino e uma pitada de mel. Caso o meu chefe tivesse gritado comigo naquele dia, bastaria adicionar gin).
"Gosto do fato de o Aperol ser bastante acessível", disse Volfson. "Ele pode trazer um sabor amargo e adoçante ao mesmo tempo. Quem prepara um Negroni com um vermute mais viscoso pode usar o Aperol para deixar a bebida mais suave. E ele pode deixar um Martini mais amargo".
Embora pareça improvável que o Aperol conquiste um lugar na despensa dos chefs confeiteiros, ao lado do Grand Marnier, já há quem experimente utilizá-lo em algumas cozinhas. O Bottega, em Birmingham, Alabama, serve um sorbet de toranja e Aperol; o Balena, em Chicago, oferece uma granita de Aperol que um cozinheiro doméstico pode reproduzir com facilidade.
A facilidade de usar o Aperol é parte do que o torna atraente, um antídoto leve ao movimento da mixologia que nos trouxe coquetéis complicados preparados com licores desconhecidos, açúcares com ervas e bacon.
"O fundamentalismo no preparo de coquetéis tem diminuído", disse Meehan. "Essa é uma bebida leve e refrescante que, especialmente no verão, é a pedida perfeita."
Para o bartender doméstico, o Aperol é bastante fácil de usar, perfeito para misturar com um pouco de gin e vodca ou algum espumante, só por conta da cor e da acidez. O teor de álcool é tão baixo (11%) que não é realmente necessário medir e agitar a mistura. Apenas despeje a bebida sobre o gelo, talvez esprema e adicione alguma laranja fresca, mexa um pouco com um pauzinho de comida chinesa e olhe pela janela enquanto saboreia, pensando, tranquilamente, se deveria ou não trocar o filtro do seu ar condicionado.
"É um pouco mais fácil ser seduzido pelo Aperol" do que por alguns licores mais desafiadores, como o Maraschino Luxardo, de cereja azeda, disse Bowles, da Astor Wines. "Ele é mais flexível. As pessoas sem dúvida estão experimentando utilizá-lo."
É possível que o momento do Aperol passe e o mundo das bebidas siga em frente. Porém, por enquanto, o mundo está com um de gosto de casca de laranja um pouquinho mais forte.
"Todo mundo está sempre à procura de algo novo para usar", disse Jack Shute, que representa a Palm Bay International em Nova York.
O aperitivo de alcachofra Cynar pode não pegar.
"Na minha opinião, é difícil de explicar ao consumidor o que uma alcachofra traz para um licor", disse ele. "Mas o uso de laranja é algo facilmente compreendido."