
O cantor Nasi, da banda Ira!, afirmou que os shows cancelados no sul do país foram feitos em comum acordo com o contratante e serão remarcados para um momento "menos agitado".
Em entrevista à Billboard Brasil, o vocalista deu detalhes sobre o show em Minas Gerais, ocorrido em 29 de março, que deu origem aos comentários e críticas à banda.
O vocalista também comentou como considera fascista o movimento que o tornou um dos assuntos mais comentados nesta quarta-feira (9).
— Fizemos com muita tranquilidade (o cancelamento dos shows). A gente achou melhor, por ora, transferir para o futuro. Porque houve um bombardeiro desses fascistas — afirmou Nasi à Billboard. — Esses caras que estão enchendo o saco aí, robozinho… Todo mundo sabe como o gabinete do ódio age, né? Daqui a pouco eles pegam outro para Cristo. Numa boa, o Ira! saiu maior do que entrou nessa história.
Após os cancelamentos no sul, a banda volta a se apresentar em 25 de abril, na cidade de Dourados (MS).
Bastidores do show
Segundo Nasi, bolsonaristas teriam feito um recorte que não dá dimensão da realidade sobre o corrido. O vocalista contou que, em determinado momento do show, uma grande parte do público começou a entoar "sem anistia". O brado do público foi durante a música Rubro Zorro.
Ao fim da música, o artista demonstrou apoio com a frase "É isso aí! Sem anistia!". Em seguida, relatou que foi hostilizado por um grupo que estava no show.
— Eu nem entrei muito no aspecto político porque essa anistia é uma farsa, entendeu? Isso é um acinte à democracia. (...) A discussão deveria ser: "Vamos tentar ver a questão com isometria". Mas impunidade para os golpistas? Para planos de assassinato? A gente estaria em uma ditadura — disse ele.
Crítica a outros artistas
Na entrevista, Nasi reconheceu que não quer pessoas de extrema direita ouvindo as músicas da banda.
— O Ira! é uma banda progressista. Nós somos democráticos. Nós passamos pela ditadura. O que eu quis dizer é o seguinte: eu não quero ter público fascista. Agora, se o público fascista, de extrema-direita, quer consumir minha música, o que eu posso fazer? Posso fazer nada. Não é do meu agrado, sabe? Eu não quero — afirmou.
Ele também indicou que há alternativas para serem consumidas por este público:
— Tem outras bandas. Vão curtir Ultraje a Rigor. Eu tenho 50 shows até o final do ano. O Ultraje tem seis. Por que eles não vão encher o saco dos contratantes para contratar esses p*? — questionou.
Gusttavo Lima, apoiador assumido de Jair Bolsonaro, também foi alvo de críticas. Questionado sobre a postura que teria frente ao público caso os shows no Sul não tivessem sido cancelados, ele afirmou que não esperava essa repercussão, mas que não havia cometido nenhum crime.
— Eu não sou cantor que está respondendo por lavagem de dinheiro com o PCC. Não é? Você sabe de quem eu estou falando… Do Gusttavo Lima. O ídolo deles. Eu tenho que ter vergonha? Ou ele? Não tô falando que ele é culpado… Mas só de responder um processo desse, já é uma coisa muito ruim — declarou o vocalista.
Repercussão
Nasi reafirmou que o Ira! "saiu" da polêmica melhor do que entrou. Também contou que sua conta no Instagram cresceu em 10%, mesmo bloqueando muita gente.
— Eu tive o trabalho de mensurar todas as mensagens que recebi e 80% me apoiavam. Os outros eram emoji de coco, "comunista lixo"… Eles pensam que me afetam. Você conhece uma pessoa não pelos amigos que ela tem, mas pelos inimigos. Então, se essa gente é minha inimiga, do Ira!, eu me sinto satisfeito — comentou ele.
O artista também citou episódios passados, mostrando estar acostumado com a diversidade política nos shows. Por último, disse não ser "palestrinha", mas reforçou que tem o dever de se manifestar.
— Não é defender político. Ano passado, quando teve a questão do "criança não é mãe" eu também estava lá, me manifestando. Sempre que tiver algo absurdo, assim, no Brasil, algo que ponha em risco nossa democracia, eu vou dar meu testemunho — finalizou.