
A disputa entre Emicida, e o irmão, Evandro Fióti, sócios na produtora Lab Fantasma, ganhou as redes sociais na última semana. O rapper acusa o irmão de desviar R$ 6 milhões da empresa que administravam juntos desde 2009.
Em entrevista exibida no Fantástico, da TV Globo, no último domingo (6), Fióti negou as acusações de saques indevidos.
Ele afirmou que todas as transferências de valores ao longo dos 16 anos de existência da empresa foram realizadas com base em critérios definidos pelos dois sócios.
— Não trabalhei de maneira antiética em nenhuma vez da minha vida. Todas as retiradas sempre seguiram os ritos da área administrativa e financeira — declarou.
Conforme a defesa de Emicida, as supostas transferências teriam acontecido entre junho de 2024 e fevereiro de 2025, da conta corporativa para a conta pessoal de Fióti.
"Dinheiro nunca foi o que me mobilizou"
A Lab Fantasma foi criada para dar autonomia à carreira de Emicida e criar uma plataforma para artistas independentes. Os irmãos dividiam igualmente a sociedade.
Porém, em 2024, uma alteração contratual transferiu 90% das cotas da empresa para Emicida, restando 10% para Fióti. A gestão, contudo, permaneceu sendo feita de forma compartilhada.
Fióti afirma que sempre esteve mais focado na construção de projetos do que na remuneração.
— Dinheiro nunca foi o que me mobilizou. Desde a época em que fui servente de pedreiro, o que me motivava era o que eu podia construir. E na Lab Fantasma nunca foi diferente — afirmou no programa.
Mesmo após um acordo firmado em dezembro de 2024 para reorganizar a estrutura da empresa e dividir os bens, Emicida, que é o sócio majoritário, teria sido surpreendido por movimentações bancárias realizadas pelo irmão em janeiro e fevereiro deste ano.
O que diz Emicida?
Em nota enviada ao Fantástico, o músico, cujo nome completo é Leandro Roque de Oliveira, afirmou que foi pego de surpresa com o processo judicial movido pelo irmão, justamente enquanto os dois negociavam, de forma amistosa, mudanças no modelo de trabalho.
O cantor declarou estar "muito triste" com a situação e disse que não pretende transformar a crise em um espetáculo público.
— Peço que meus fãs, amigos e parceiros compreendam este momento difícil. Deixarei que os advogados tratem do assunto daqui pra frente — disse Emicida, que não concedeu entrevista, mas confirmou que a Justiça já negou dois pedidos apresentados por Fióti, por falta de fundamento.
A defesa do rapper também sustenta que uma gravação apresentada por Fióti como prova de concordância com as transferências foi tirada de contexto.
Além disso, acusa o ex-sócio de quebrar um acordo interno ao realizar transferências sem o devido aval, o que levou à revogação de seus poderes de procurador em março.
"Ataque foi desproporcional"
Ainda na entrevista ao Fantástico, Fióti afirmou que o rompimento foi doloroso, especialmente por se tratar de uma relação familiar.
— O ataque foi muito desproporcional. Não é porque é só uma relação entre irmãos. Seria desproporcional em qualquer relação — declarou.
Ele também comentou sobre a posição da mãe dos dois.
— Não tem como ela escolher um lado, mas ela tem a compreensão do que aconteceu. Ela confia em mim e no Leandro também.
Entenda o caso
Fundada em 2009, na zona norte de São Paulo, a Lab Fantasma se consolidou como um dos principais selos da cena independente, atuando na administração de artistas como Rael e Drik Barbosa, além de gerenciar a carreira de Emicida. A empresa também expandiu seus negócios para o setor de moda e literatura.
Até 2024, Emicida e Fióti tinham participação societária igualitária. No entanto, no último ano, a estrutura da empresa mudou: Emicida passou a deter 90% das quotas, enquanto Fióti ficou com apenas 10%.
Conforme O Globo, segundo documentos anexados ao processo, a mudança ocorreu por "questões estratégicas e necessidades empresariais".
A disputa se intensificou em 29 de março, quando Emicida anunciou publicamente o rompimento da parceria com o irmão. Em nota publicada no Instagram, sem espaço para comentários, o rapper informou que Fióti não representa mais sua carreira artística.
No mesmo dia, Fióti divulgou um comunicado afirmando que estava iniciando "uma nova fase" de sua trajetória profissional, após 16 anos à frente da Lab Fantasma.
Transferências irregulares
Nos autos do processo, a defesa de Emicida alega que, em janeiro de 2025, ele foi surpreendido com uma transferência de R$ 1 milhão feita por Fióti, sem sua autorização. O rapper então decidiu revogar as procurações que concediam ao irmão poderes administrativos sobre a empresa.
No mês seguinte, mais R$ 1 milhão teria sido movimentado, também sem consentimento. Após solicitar uma auditoria sobre transações passadas, Emicida afirma ter descoberto um total de R$ 6 milhões em retiradas indevidas.
A defesa do rapper sustenta que essas movimentações configuram "uma grave quebra de confiança", e ressalta que Fióti vinha reclamando do salário mensal de R$ 40 mil que recebia na empresa.
Adiantamento de lucro
Fióti negou as acusações e afirmou que as transferências não foram irregulares. Seus advogados anexaram ao processo trocas de e-mails que indicariam que os valores se referiam a adiantamentos de lucro acordados entre as partes.
Um extrato bancário incluído nos autos mostra que ele teria encaminhado metade do valor recebido para Emicida, reforçando a tese de que os repasses faziam parte da dinâmica financeira da empresa.
"A acusação de que Evandro teria 'esvaziado' contas da empresa é completamente infundada", afirmam os advogados do empresário, destacando que as planilhas financeiras anexadas ao processo mostram que Emicida teria recebido valores superiores aos do irmão.
Em nota oficial, Fióti declarou que "nunca desviou qualquer valor da Lab Fantasma ou de empresas do grupo" e classificou a acusação como "uma inversão dos fatos".
Ele também afirmou que a gestão da empresa sempre foi conjunta e que todas as movimentações financeiras eram registradas e conhecidas por ambas as partes.