
Décadas avançam e ela continua brilhando, mesmo em outras vozes. Elis Regina (1945-1982), que faria 80 anos nesta segunda-feira (17), segue inspirando artistas pelo país a interpretar seu repertório — o que se estende à sua terra natal, o Rio Grande do Sul.
Elis não era compositora, mas trabalhou com alguns dos melhores nomes do riscado: Milton Nascimento, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Belchior, Tom Jobim, João Bosco, Aldir Blanc e muitos outros. Se ela cantasse a música, já era: tomava conta.
— Não importava quem tinha composto: era ela quem dava vida à música — aponta a cantora porto-alegrense Rê Adegas. — O Bêbado e a Equilibrista é Elis. Como Nossos Pais é Elis. Ela conseguia se apropriar da canção.
Aprendizado contínuo
Rê tem 44 anos e, além de outros trabalhos, canta o repertório da Pimentinha desde 2004 em diferentes espetáculos. Na próxima quarta-feira (19) e no dia 27 de março, ela apresenta o Tributo a Elis no Grezz, em Porto Alegre. No dia 13 de abril, irá até o Rio de Janeiro realizar o show Elis & Emilio, com Kako de Oliveira, propondo um encontro da gaúcha com Emílio Santiago.
No começo, o repertório de Rê era mais focado no pop ou na soul music, majoritariamente em inglês. Só que, pelos bares porto-alegrenses, muita gente pedia para ela cantar em português.
Pensando em atender ao público, surgiu a ideia de fazer um tributo a Elis. Foi aí que a cantora se apaixonou pelo cancioneiro nacional.
— Elis traz o melhor da nossa música brasileira. Para mim, ela foi uma ponte para esse universo. É um deleite absurdo e um aprendizado contínuo — explica.
Um ensinamento de Elis
Para a cantora, é desafiador interpretar Elis por conta da dificuldade técnica exigida. Mas também é uma forma de crescer musicalmente. Outro detalhe é o repertório, como acrescenta Rê, que permite entrega e conexão profunda com o que está sendo dito.
— Não estou ali só cantando, estou ali contando uma história sobre os sentimentos que a música tem. Isso ela me ensinou — reflete. — Não é só replicar algo, mas sim trazer verdades para aquilo que está sendo dito com interpretação, com amor.
Embora possa ter uma semelhança física com Elis por conta do cabelo curto, Rê adverte que sua ideia não é copiá-la ou reproduzir exatamente o que ela faz. Sua intenção é realizar uma homenagem partindo de sua identidade como cantora, de seu jeito.
A influência das cantoras

Por sua vez, Cintia Grebin estreou o espetáculo Elis & Elas no ano passado. Hoje com 40 anos e morando em Canoas, ela começou a se aproximar da artista ainda na infância.
Porém, foi se apaixonar de vez durante a faculdade de música no Centro Universitário Metodista — IPA, ao estudar a influência de cantoras mulheres no cancioneiro popular. A Pimentinha entrou em seu repertório:
— Eu canto Elis porque me encantei por ela desde que a conheci. Quando a gente depara com artistas como ela, é um marco. Me lembro muito desse impacto que foi conhecer a obra da Elis profundamente.
Amar uma cantora
Além de cantora, Cintia trabalha como professora de música. Por isso, há uma inquietação nela em perpetuar a qualidade sonora de artistas como Elis. Ao criar o espetáculo, isso foi levado em conta.
— Como trabalho com muitas crianças e muitos adolescentes, sempre me preocupei em trazer esse legado da música popular brasileira a partir da visão dela, para que isso não morresse. Que conhecessem as músicas, soubessem o que é uma intérprete — diz.
Por outro lado, Elis & Elas não tem o intuito de ser um show de covers, como ressalta Cintia:
— Eu não me pareço esteticamente com a Elis e a minha voz não é igual, mas a intenção desse espetáculo é ser uma homenagem de alguém que ama uma cantora e sabe de sua importância.
Uma joia nas mãos

Natural de Porto Alegre, mas vivendo em São Paulo (SP), Camila Lopez completa oito anos cantando a obra de Elis nesta segunda (17). Quando ela juntou uma banda para tocar o repertório da cantora, a ideia era mais voltada para o estudo coletivo de música brasileira do que para seguir fazendo tantos shows. Contudo, percebeu que havia uma joia nas mãos:
— A inspiração para escolher esse repertório foi porque ouvia falar que a Elis era a maior cantora da nossa MPB. Particularmente, mal conhecia a obra dela e me apaixonei no meio do caminho.
Oito anos depois, Camila tem circulado o país com o projeto Tributo Elis Regina, chamando atenção por suas interpretações e semelhanças com a cantora. Ao apresentar esse show, ela sente que cumpre um propósito de reviver as canções de Elis.
— Quero mais é que a pessoa chegue na sua plataforma de ouvir música e a escute. Porque sei o bem que isso faz para a alma e desejo a todos a mesma sensação maravilhosa que sinto — pontua.
Músicas que emocionam

Quem também segue cantando o repertório de Elis é a porto-alegrense Rosana Marques, desde 2008. Aos 65 anos, ela já realizou shows explorando diferentes nuances e períodos da cantora.
Rosana frisa não ter a voz parecida com a de Elis e nem tanta reproduzir exatamente aquilo que a cantora fazia no ritmo e no tempo. Apenas canta as músicas que a emocionam, mas com sua voz.
— Para mim, continua sendo a maior cantora que já tivemos pela disponibilidade corporal, mental e emocional. Simplesmente ela era toda música quando cantava. Era corpo inteiro, emoção e sentimento, tudo nela funcionava pela canção — avalia.