Símbolo da música regional gaúcha, o acordeom tem uma história centenária no Rio Grande do Sul. Desde o final do século 19, o instrumento ganhou musicalidade própria, sobreviveu a modismos e segue animando bailes. Apesar da sua importância para a cultura local, a gaita tem poucos trabalhos que discutem seu passado, mensuram o legado de seus expoentes e documentam fábricas que fizeram história no Estado. O músico Luciano Maia ajuda a suprir a falta de informação na série Falando em Gaita, recém-lançada no YouTube.
Em nove episódios, Maia conversa e toca com quatro grandes influências de seu trabalho, Albino Manique, Luiz Carlos Borges, Edson Dutra e Renato Borghetti. E também com dois colegas de geração, Orlandinho Rocha e Jonathan Dalmonte.
– O impulso para a série se deu a partir de oficinas que faço para estudantes. Me dei conta de que as dúvidas eram muito mais sobre a vida do que sobre a música. Eles gostam muito de saber como comecei a compor, como construí minha carreira, por exemplo. Isso se dá provavelmente porque há hoje muitos professores e métodos qualificados, mas o contato direto com o músico é mais raro – avalia Maia.
Com mais de 20 anos de experiência como músico e produtor, Maia também queria perguntar para seus ídolos as mesmas questões que ouvia de seus alunos. É isso que está documentado na série: diferentes gerações de acordeonistas narram como despertaram para o instrumento, superaram desafios dos primeiros anos na estrada e se renovaram ao longo do tempo.
Os episódios captam o clima informal das gravações, realizadas há mais de dois anos. Maia tinha planejado entrevistar Manique, Borges e Borghetti na mesma tarde, mas em takes separados, em uma loja especializada em gaitas da Capital. No entanto, Manique chegou mais cedo e começou a conversar com Maia no balcão. Como o papo estava bom, a câmera foi ligada e ali mesmo, de improviso, a maior parte da série foi registrada.
– O Albino se encostou no balcão e começou a contar um monte de pérolas que eu jamais havia escutado. Os outros gaiteiros foram chegando e também entraram no assunto – lembra Maia.
No segundo episódio, Borges lembra que, aos 12 ou 13 anos, quando morava em São Luiz Gonzaga, costumava ir até o hotel em que Os Mirins ficavam hospedados em suas visitas à cidade. Eram oportunidades em que o jovem gaiteiro entrava em contato com o ídolo Albino Manique, fundador do conjunto. No mesmo episódio, Manique afirma que “Borges é uma das maiores personalidades do Rio Grande, pela capacidade e pelo valor humano”.
– São meus ídolos. Não sabia que havia essa ligação tão forte entre eles. Na série, descobri que todos nós estamos interligados. Comecei a tocar por causa do primeiro disco do Borghetti, e o Edson Dutra assina o prefácio do meu primeiro disco.
Dutra, fundador do grupo Os Serranos, não pôde comparecer ao encontro coletivo, mas foi visitado por Maia e equipe no dia seguinte. Já as conversas com Orlandinho Rocha e Jonathan Dalmonte têm perfil mais técnico. Orlandinho, responsável pela Casa da Gaita-
Ponto, abre um acordeom e explica seus elementos; e Dalmonte, dos microfones Harmonik, fala sobre os desafios da captação de áudio do instrumento.
– Quero dar continuidade ao projeto e estou trabalhando em mais novidades para o canal ainda neste verão – conta Maia.