Correção: Zé Flávio não se apresentou no festival, como publicado entre 22h21min de domingo (1º) e 18h06min de terça-feira (3). A informação havia sido passada pela produção do evento. O artista foi substituído por King Kim. O texto já foi corrigido.
O Parque da Redenção foi palco, ao longo deste domingo (1º), de dois eventos distintos. De um lado, milhares de pessoas se aglomeravam na Parada do Orgulho LGBTI. Do outro, no Auditório Araújo Vianna, a velha guarda e a nova geração do rock gaúcho se apresentaram no Festival POA de Rock. O evento trouxe quase 20 apresentações de bandas ou artistas da cena regional e ainda lançou um CD com grupos novatos selecionados por edital.
Entre os artistas consagrados, apresentaram-se Claudio Veracruz (Bixo da Seda), Julio Reny e Irish Boys, King Jim, Frank Jorge, Egisto dal Santo e as bandas Taranatiriça, DeFalla e Tenente Cascavel (composta por ex-membros do TNT e dos Cascavelletes). Não faltaram clássicos como Amigo Punk ou Taranatiriça, que fizeram o público vibrar.
Na lista dos "novatos", entraram oito bandas: Le Batilli, O Mensageiro, Quem é Você Alice?, Radio Russa, Adrielle Gauer, Matéria Plástica, Jota Emme Electroacústico e Piratas do Porto.
O festival trouxe uma dinâmica afetiva: os mais velhos "apadrinhavam" os mais novos e tocavam ao menos uma música em conjunto. Frank Jorge, por exemplo, tocou Amigo Punk ao lado de Le Batille.
— Hoje, há uma profusão de novas referências para os mais novos, inclusive além do rock, o que acho normal. Muitas bandas têm influências de jazz, MPB e até R&B. O rock não é conservador, não sei por que dizem isso. É o gênero que mais se metamorfoseia — diz Frank.
Após ver o público cantar Amigo Punk de pé e batendo palmas, Leandro Batista Lima, 31 anos, o vocalista de Le Batille, diz que performar ao lado de Frank Jorge foi "a realização de um sonho". Entre suas referências musicais, ele cita também TNT, Cascavelletes, Engenheiros do Hawaii, Garotos da Rua e até Araketu e música instrumental ouvida no Spotify.
— O Frank é um cara muito humilde. A energia fluiu muito bem — diz.
Outro veterano no festival, Edu K elogiou o evento por valorizar a cena local de rock – um estilo que, na sua visão, tem como papel social propor o questionamento, mas que deixou de ser mais mainstream.
— Porto Alegre sempre teve diferentes estilos de rock. Os guris (mais novos) são afudê, abobados que nem eu, têm letras muito boas. Mas o rock perdeu força com a criançada. O funk e o sertanejo são o novo rock. A gente tem que levar para os guris de 10, 12, 14 anos aprontarem no colégio. O funk tem putaria, mas não tem a explosão do rock— reflete.
Felipe Rodrigues, 33 anos, vocalista da Radio Russa, representa a nova geração do rock gaúcho. Entre as influências musicais para além dos ídolos que estavam no festival, ele cita até o tango, música que inspirou uma canção do grupo do mesmo nome do estilo musical.
— É sensacional estar no meio desses caras, que fazem o papel de padrinhos. Ainda mais tocando no Araújo (Vianna), perto da Oswaldo Aranha, que é algo simbólico. Nossa música Campo Afora conversa com Amigo Punk — afirma.
O produtor do festival, Pedro Loss, também responsável pela Serenata Iluminada, diz que o evento será realizado anualmente – sempre selecionando novas bandas por meio de editais e convidando mais artistas consolidados no cenário cultural. No entanto, ele lamenta o público menor do que o previsto.
— Alguém hackeou nosso evento no Facebook e o cancelou, aí todo o mundo que havia se interessado recebeu a notificação de que não teria mais nada. Isso nos prejudicou, mas vamos ir na polícia e achar o responsável — afirma.
O técnico em segurança do trabalho, Alex Rodrigues, 41 anos, e a professora Saionara Fonseca, 44 anos, vieram de Gravataí especialmente para conferir Taranatiriça, Tenente Cascavel e DeFalla. Casados há 24 anos, eles refletiram sobre a passagem do tempo ao notarem a média de idade mais alta do público.
— Essas bandas foram o ápice da nossa adolescência. Não dá para deixar o rock morrer — diz Saionara. — A gente até gosta da nova geração, mas se identifica mais com os veteranos. Sou professora e sinto que a gurizada curte mais rock internacional e menos o que é daqui. O rock me fez pensar muito: olha as letras do Legião Urbana e do Capital Inicial — acrescenta.
A nostalgia também moveu as amigas Ana Cláudia Riffel, 30 anos, e Gabriela Anhaia, 29 anos, a assistirem ao festival.
— Esse pessoal fazia muito show no Interior. Sou de Santo Cristo e todas as bandas da minha cidade só tocam rock gaúcho. O festival está bom, mas faltou Bidê ou Balde, ou Replicantes — diz Ana Cláudia.
— Somos fãs da Biba Meira (baterista do DeFalla), que fundou As Batucas, o primeiro grupo de percussão e bateria formado só por mulheres. Acho bacana ter as bandas mais novas junto com as mais velhas, para conhecer. Mas é claro que temos uma relação com as mais antigas — sintetiza.