Luisa Geisler estava trabalhando em um romance sobre brasileiros que moram na Irlanda quando percebeu que poderia se tornar uma de suas personagens – passou em um mestrado fora do Brasil, mais especificamente na... Irlanda. Depois de um ano em Cork, ao sul da ilha, a escritora voltou para Canoas, sua cidade natal, em setembro passado, para finalizar De Espaços Abandonados. O livro será lançado nesta segunda-feira (09), às 19h, na Livraria Baleia (Santana, 252), com um bate-papo da autora com as escritoras Carol Bensimon e Débora Ferraz.
– O livro estava mais ou menos estruturado antes de eu ir para a Irlanda. Eu me questionava por que tantos brasileiros iam para aquele país, e não para a Austrália, por exemplo. O que aconteceu é que eu fui para a Irlanda com algumas respostas. Lá, essas respostas se inverteram e se tornaram mais perguntas – afirma Luisa.
Este é o terceiro romance da escritora de 27 anos – que já venceu dois Prêmios Sesc de Literatura (em 2010 e 2011, aos 19 e 20 anos de idade, respectivamente), foi duas vezes finalista do Jabuti e uma vez semifinalista do Oceanos – além de patrona da 34ª Feira do Livro de Canoas, que se encerrou no último sábado.
Na trama do novo romance, a jovem Maria Alice vê a mãe, que sofre de transtorno bipolar, desaparecer sem deixar vestígio. Postagens em um blog indicam que ela pode ter ido para Dublin. Atrás dessa pista, a filha se muda para a Irlanda, onde passa a viver em uma comunidades de brasileiros.
A narrativa tem como eixo um manual de escrita criativa preenchido pela protagonista.
– É um livro movido a perguntas. O manual é cheio de questões que devem ser preenchidas, mas às vezes as respostas não têm nada a ver com o que foi questionado, e abrem novas perguntas – conta Luisa.
O interesse pelo tema começou há 10 anos, quando o irmão da escritora foi morar na Irlanda. O crescimento econômico, bem como a facilidade em conseguir visto de trabalho no país, motivavam muitos brasileiros a tentarem a sorte em Dublin e outras cidades irlandesas. Além disso, no imaginário de muitos viajantes, a Irlanda carrega a reputação de organização e segurança europeias, mas com certa alegria tropical, preservada no quase carnavalesco dia de São Patrício e na paixão pela cerveja.
– Percebi que as pessoas saem do Brasil com a ideia de ter uma vida melhor. Mas essa “vida melhor” costuma ser uma noção muito vaga. Depois de um tempo, há quem não saiba mais o que estava buscando por lá – aponta Luisa.
Para a escritora, muita gente sai do Brasil subestimando a importância dos afetos e da língua mãe.
– Costumo dizer que, se pudesse levar todos meus amigos e familiares para a Irlanda, seria perfeito viver lá. Mas é claro que isso é impossível. A importância de viver próximo de quem a gente gosta, com o conforto da língua que aprendemos a nos expressar desde a infância, é algo que muita gente só valoriza quando está fora de seu país – conclui Luisa.