Com o livro Adolescência em Cartaz: Filmes e Psicanálise para Entendê-la, os psicanalistas Diana e Mário Corso, pais de duas jovens adultas, dão uma mãozinha para quem está passando – ou vai passar em breve – pela experiência de conviver com adolescentes. A dupla reúne uma seleção de filmes que servem de ponto de partida para um mergulho no universo dos mais jovens. GaúchaZH bateu um papo com o casal. Confira abaixo:
Por que o tema da adolescência chamou a atenção de vocês?
Mário Corso - Porque pouco nos damos conta o quanto nosso caráter é forjado nela. A adolescência marca tanto quanto os primeiros passos da vida. Só que nesta segunda rodada os ideais não vêm de fora, da família: somos nós mesmos que nos cobramos. Precisamos lidar com as críticas que nosso adolescente interior faz ao adulto que nos tornamos.
Se um pai de adolescente precisasse abandonar um tipo de comportamento muito comum em relação aos filhos nessa etapa, qual seria?
Diana Corso – Meu conselho seria: não imite seu filho. Não confunda as gerações, fique na sua. Os filhos têm seu tempo, já tivemos o nosso. Cabe-nos ser curiosos, deixar-nos interrogar por eles, tente não usurpar-lhes o protagonismo.
Por que o consumo de álcool entre adolescentes tornou-se um problema aparente mais grave nos últimos anos?
Diana – O alcoolismo é uma fraqueza clássica dos nossos antepassados, quase toda família teve seus bebuns. Fazer vexames etílicos mexe com esses tabus familiares, coisa que adolescentes adoram. Além disso, as crescentes exigências de desempenhos sexuais cada vez mais precoces exigem uma boa dose de coragem, que exclui a sobriedade.
Que filmes, dos abordados no livro, tocam cada um de vocês de forma especial e por quê?
Mário – Não paro de assistir a Laranja Mecânica para entender o absurdo fascínio que os jovens têm pela violência.
Diana – Nem sempre nos definimos por aquilo que nos produz uma empatia positiva. Detesto filmes de terror, morro de medo, mas minha primeira providência foi escrever sobre Carrie, a jovem bruxa cujo pior feitiço foi a menarca. Como menina, já lidei com essas bruxarias, como mulher, continuo às voltas.
Por que é tão difícil para os pais lidar com o apego dos filhos ao smartphone?
Mário - Porque não tinham um quando jovens. Intuitivamente entendem que ele é a traição escancarada. Os filhos supostamente estão com eles, mas sua cabeça está longe, trocando mensagens com seus pares.