A vendedora de quitutes Adriana Ferreira dos Santos, de Salvador, na Bahia, viralizou recentemente nas redes sociais após divulgar a venda de um acarajé cor de rosa, em homenagem ao filme Barbie, que estreia nesta quinta-feira (20). Apesar de ser uma ideia inovadora, o prato colorido dividiu opiniões.
Em entrevista ao portal de notícias g1, Rita Santos, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam) disse que o quitute servido pela vendedora desrespeitava as tradições de venda desse prato e pontuou que o ofício das baianas que vendem acarajé já é considerado como um Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
— Para mim (o acarajé cor de rosa) também não é acarajé, é simplesmente um bolinho de feijão. E ela não pode ser chamada de baiana — declarou ao portal de notícias.
Rita acrescentou que além do desrespeito ao ofício, o acarajé rosa estaria desvalorizando a cultura negra. A presidente da associação também criticou a valorização dada à boneca Barbie, que tem origem na cultura norte-americana e não na brasileira.
— Os brancos não valorizam o que é nosso, porque vamos valorizar o que é deles? Nós, o estado da Bahia, o maior em número de pessoas negras, temos que valorizar o que é nosso, dos pretos, porque vamos dar "ibope" para Barbie? — opinou.
Apesar das críticas recebidas, alguns internautas defenderam a vendedora e a parabenizaram pela ideia. "Tem que ser muito chato pra se incomodar com um acarajé rosa só pra fazer um hype momentâneo", escreveu um usuário do Twitter. "É sério que estão problematizando o bendito acarajé rosa? As pessoas estão amargas e sem pauta", opinou outro.
Declaração da vendedora
Adriana Ferreira dos Santos, dona do estabelecimento Acarajé da Drica, vende acarajé e abará há 15 anos em Salvador. Há cerca de seis anos ela se tornou conhecida na região por inovar no modo como os quitutes são servidos. Ela já os vendeu em uma barca de sushi.
Nesta segunda-feira (17), Adriana divulgou via redes sociais que começaria as vendas do acarajé rosa.
"O dia em que me desafiaram fazer um bolinho de feijão da Barbie. Primeiro bolinho de feijão rosa do mundo", anunciou em uma publicação no Instagram.
Ao g1, a vendedora declarou que não esperava tamanha repercussão em torno do quitute colorido e esclareceu que a venda nesse formato é momentânea e não será mantida.
— É uma brincadeira pela estreia do filme. Só vamos fazer essa semana. De forma nenhuma isso afeta as tradições. Eu gosto de inovar. Sempre prezo pela qualidade e em como levar meu produto até eles (clientes) — afirmou.
Adriana disse não se incomodar com as críticas e esclareceu que a coloração rosa não alterava o sabor do prato, uma vez que ela utilizava corante sem sabor na massa.
— Eu sou uma comerciante do acarajé. É o nosso sustento. Tudo que eu faço gera polêmica e eu estou sempre pensando na qualidade. É muita falta de empatia (de quem critica). Não tem necessidade — se defendeu.
O quitute
O acarajé é um bolinho de feijão frito em azeite de dendê. A massa é preparada com feijão fradinho moído, água, sal e cebola. Já no recheio vai vatapá, caruru e camarão seco (ou defumado).
Apesar de ser amplamente conhecido no nordeste, o preparo do acarajé tem origem na cultura africana. O prato ficou conhecido no Brasil quando as escravas de ganho ou libertas, que vieram da África Ocidental, passaram a vender o quitute para garantir seu sustento.
Em algumas religiões de matriz africana, o "àkàrà je", que significa comer bola de bola na língua iorubá, é considerado como uma comida sagrada. Ele é utilizado em rituais, como uma oferenda aos orixás (divindades), em sinal de agradecimento.